Opinião

MAM na medida do tempo

O acervo de um museu representa em si a sua própria história, o percurso de uma instituição que atua na preservação e difusão dos valores culturais, apesar das dificuldades, propondo reflexões e estudos aprimorados da arte na sua ampla dimensão.

O Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) é uma dessas instituições que se caracterizam por uma efetiva programação cultural e educativa, aprimorando o olhar e a sensibilidade do público.

A mostra “Passado/Futuro/Presente: Arte contemporânea brasileira no acervo do Museu de Arte Moderna” foi o resultado de uma preciosa colaboração entre o Phoenix Art Museum (Arizona, EUA) e o MAM, tendo sido inicialmente montada nos Estados Unidos entre setembro e dezembro de 2017, tendo como curadores a norte-americana Vanessa K.Davidson e o brasileiro Cauê Alves.

A instigante exposição reúne 72 obras de 59 artistas concebidas desde os anos 90 até 2010, proporcionando ao público uma reflexão sobre a relação vital entre o passado e o futuro, suas consequências no presente com todas as influencias advindas do contexto social e cultural com suas transformações radicais.

beatriz-milhazes_mam-são-paulo

Dividida em cinco temas: O Corpo/ O Corpo Social, Identidades Mutáveis, Paisagem Reimaginada, Objetos Impossíveis, e Reinvenção do Monocromo, o visitante se defrontará com diversas linguagens e suportes, com conotação universal, espelhando o fluxo renovador da arte brasileira envolta em constantes desafios.

Uma panorâmica bem expressiva da arte contemporânea brasileira com destaques marcantes como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Tunga, Dora Longo Bahia, Waltércio Caldas, Leda Catunda, Anna Bella Geiger, Carmela Gross, Nelson Leirner, José Leonilson, José Damasceno, Regina Silveira, Valeska Soares, Ana Maria Tavares, Carlito Carvalhosa, Rosangela Rennó, Lenora de Barros, Rosana Paulino, Antonio Dias entre tantos consagrados artistas que deram esse caráter internacional da nossa arte.

Paralelamente, na Sala Paulo Figueiredo, acontece a mostra Novas Aquisições – MAM que reúne obras adquiridas pela instituição nos últimos cinco anos. O precioso acréscimo é resultado de doações de particulares cobrindo períodos marcantes como a abstração geométrica com um desenho de Lothar Charoux, datado de 1958. O visitante poderá também apreciar o projeto de livro de artista de Julio Plaza, manuseando a peça e se deleitar com a tapeçaria de Jacques Douchez, envolta numa geometria lírica.

Rosana Paulino

Analisando as obras expostas percebe-se sutileza nos detalhes como a foto de Mauro Restiffe em que Brasília é cenário do velório de Oscar Niemeyer, uma cidade que é exemplo do geométrico abstrato na sua profunda raiz, o rigor estético e poético das obras de Almandrade e a simbologia na obra de Mestre Didi, por outro lado chama a atenção, entre tantos destaques, as fotos de Marcelo Moscheta, Erika Verzutti e Luiz Roque, as pinturas de Rodrigo Andrade, de Sandra Cinto, de José Roberto Aguilar e pela série de fotos do coletivo 3NÓS3 denominada Ensacamento (1979), um registro das ações de cobrir estátuas públicas com sacos que denunciavam a tortura, enquanto o quadro de avaf ( assume vivid astro focus) caminha para uma estrutura anárquica em contrapondo com um racionalismo envolvente. Avaf foi fundado por Eli Sudbrack em 2001, mas ocasionalmente se transforma em dupla com o artista parisiense Cristophe Hamaide-Pierson (Paris, 1973) e as vezes num coletivo dependendo dos projetos a serem executados.

Uma excelente oportunidade de rever aspectos diversificados da arte contemporânea brasileira, numa apurada montagem, confrontando as nuances da relatividade do tempo.

Veja também:

https://arteref.com/opiniao/os-70-anos-do-mam-sp/
Não foi possível salvar sua inscrição. Por favor, tente novamente.
Sua inscrição foi bem sucedida.
José Henrique Fabre Rolim

Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

Recent Posts

Exposição de Daiara Tukano no MAR destaca a cultura dos povos indígenas

Daiara Tukano, apresenta sua primeira exposição individual na cidade do Rio de Janeiro, inaugurada no…

2 dias ago

Artes e Marketing: como a comunicação fortalece seu projeto cultural?

Artes e marketing caminham juntos. Quando os agentes culturais preparam as inscrições para editais de…

2 dias ago

Conheça as funções dentro de uma galeria de arte

A galeria de arte continua sendo um dos pilares mais importantes do mundo da arte…

2 dias ago

Lygia Clark | Da a criação de conceitos artísticos até métodos terapêuticos

Lygia Clark, também conhecida como Lygia Pimentel Lins, nasceu dia 20 de outubro de 1920,…

2 dias ago

Instituto Cultural Vale lança edital 2024

O Instituto Cultural Vale abriu nesta terça-feira, 7 de maio de 2024, as inscrições para…

3 dias ago

Galeria 18 abre duas individuais, de James Rowland e Ricardo Sanchez, em maio

A Galeria 18 abrirá ao público, simultaneamente, no dia 15 de maio, as mostras individuais…

3 dias ago