Opinião

Revisões oportunas dos anos que vivemos em perigo

Por José Henrique Fabre Rolim - maio 21, 2019
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Apreciar a arte na sua ampla dimensão requer sensibilidade e um olhar aprimorado para captar as sutilezas dos períodos marcantes que estimularam resultados arrojados e inovadores propondo reflexões da vulnerabilidade humana e suas potencialidades.

Carmela Gross, escada, 1968

No Museu de Arte Moderna (MAM) a mostra “Os Anos em que Vivemos em Perigo” faz uma incursão pelos movimentos artísticos que contestavam o período nefasto da ditadura militar, mais precisamente na década de 60, fase em que a produção artística era fértil demonstrando uma vitalidade ímpar contra a repressão e a censura que tolhia a liberdade de expressão.

Precisamente, a segunda metade da década de 60 é o período enfocado na mostra, fazendo uma releitura de obras que marcaram aquela época, pertencentes ao precioso acervo do MAM. Nota-se que em 1969, o MAM teve sua sede inaugurada com toda uma nova concepção, após ter sofrido alguns incidentes de percurso, realizando o 1º Panorama de Arte Atual Brasileira.

nogueira lima, mauricio

Celebrando seus 70 anos, a atual mostra resgata fatos históricos que refletiam posturas mais avançadas. A mostra foi planificada com a seleção de obras que estavam envolvidas com eventos que redefiniram os rumos da arte brasileira como Nova Objetividade Brasileira (MAM- RJ), 1º JAC Jovem Arte Contemporânea (MAC-USP), Exposição-não-exposição (Rex Gallery&Sons) e a 9º Bienal de São Paulo que foi extremamente importante, considerada a Bienal da Pop Arte na qual o destaque principal era a representação americana com a Sala Ambiente USA 1957/1967 com obras de: Roy Lichtenstein, Andy Warhol, Edward Ruscha, James Rosenquist, Robert Indiana, Claes Oldenburg, Robert Rauschenberg, Paul Harris e George Segal entre alguns, além da Sala Especial de Edward Hopper (1882-1967), outros tempos em que as bienais eram bem mais consistentes que as atuais.

A mostra, que faz uma panorâmica pelos anos tenebrosos, reúne 50 obras de artistas consagrados como:

  • Anna Maria Maiolino,
  • Claudio Tozzi,
  • Antonio Manuel,
  • Maureen Bisiliatt,
  • Wesley Duke Lee,
  • Antonio Henrique Amaral,
  • Maurício Nogueira Lima,
  • Carmela Gross,
  • Marcello Nitsche,
  • Humberto Espindola,
  • Orlando Brito,
  • Marcelo do Campo,
  • Nelson Leirner,
  • Raymundo Colares,
  • Alberto Teixeira,
  • Ubirajara Ribeiro

entre tantos inovadores, abrangendo tendências das mais variadas entre pinturas, xilogravuras, fotografias, objetos que espelham o clima tenso daqueles anos dominado por inúmeras manifestações, greves, censura, repressão e a busca de novos parâmetros, uma visão geral da vanguarda brasileira  que influenciou as gerações futuras.

marcelo_do_campo__movimento_terrorista
Marcelo do campo, movimento terrorista

No Projeto Parede, que se encontra no corredor do MAM entre o saguão e a Sala Milú Villela, a instalação “Paisagem Moderna” de Leda Catunda atrai a atenção do visitante, uma colagem concebida de tecidos e estampas algumas criadas e outras apropriadas formando uma visão idealizada por diversos artistas modernos como Portinari, Guignard e Tarsila de um país belíssimo em busca de um sonho, fora da realidade atual.

A arte sempre refletiu os momentos cruciais de uma época, captando as nuances da sensibilidade humana em confronto com a complexidade existencial movida pela sua própria fragilidade e pelos desafios que surgem inesperadamente.

O MAM em seus 70 anos foi palco das radicais mudanças culturais ocorridas, compondo um percurso repleto de realizações, mostras contundentes a refletir o dinamismo da expressão artística que não se atém a limites ou imposições, mas extrapola uma energia vital proporcionando reflexões e experiências fabulosas.

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