Opinião

Revisões oportunas dos anos que vivemos em perigo

Apreciar a arte na sua ampla dimensão requer sensibilidade e um olhar aprimorado para captar as sutilezas dos períodos marcantes que estimularam resultados arrojados e inovadores propondo reflexões da vulnerabilidade humana e suas potencialidades.

Carmela Gross, escada, 1968

No Museu de Arte Moderna (MAM) a mostra “Os Anos em que Vivemos em Perigo” faz uma incursão pelos movimentos artísticos que contestavam o período nefasto da ditadura militar, mais precisamente na década de 60, fase em que a produção artística era fértil demonstrando uma vitalidade ímpar contra a repressão e a censura que tolhia a liberdade de expressão.

Precisamente, a segunda metade da década de 60 é o período enfocado na mostra, fazendo uma releitura de obras que marcaram aquela época, pertencentes ao precioso acervo do MAM. Nota-se que em 1969, o MAM teve sua sede inaugurada com toda uma nova concepção, após ter sofrido alguns incidentes de percurso, realizando o 1º Panorama de Arte Atual Brasileira.

nogueira lima, mauricio

Celebrando seus 70 anos, a atual mostra resgata fatos históricos que refletiam posturas mais avançadas. A mostra foi planificada com a seleção de obras que estavam envolvidas com eventos que redefiniram os rumos da arte brasileira como Nova Objetividade Brasileira (MAM- RJ), 1º JAC Jovem Arte Contemporânea (MAC-USP), Exposição-não-exposição (Rex Gallery&Sons) e a 9º Bienal de São Paulo que foi extremamente importante, considerada a Bienal da Pop Arte na qual o destaque principal era a representação americana com a Sala Ambiente USA 1957/1967 com obras de: Roy Lichtenstein, Andy Warhol, Edward Ruscha, James Rosenquist, Robert Indiana, Claes Oldenburg, Robert Rauschenberg, Paul Harris e George Segal entre alguns, além da Sala Especial de Edward Hopper (1882-1967), outros tempos em que as bienais eram bem mais consistentes que as atuais.

A mostra, que faz uma panorâmica pelos anos tenebrosos, reúne 50 obras de artistas consagrados como:

  • Anna Maria Maiolino,
  • Claudio Tozzi,
  • Antonio Manuel,
  • Maureen Bisiliatt,
  • Wesley Duke Lee,
  • Antonio Henrique Amaral,
  • Maurício Nogueira Lima,
  • Carmela Gross,
  • Marcello Nitsche,
  • Humberto Espindola,
  • Orlando Brito,
  • Marcelo do Campo,
  • Nelson Leirner,
  • Raymundo Colares,
  • Alberto Teixeira,
  • Ubirajara Ribeiro

entre tantos inovadores, abrangendo tendências das mais variadas entre pinturas, xilogravuras, fotografias, objetos que espelham o clima tenso daqueles anos dominado por inúmeras manifestações, greves, censura, repressão e a busca de novos parâmetros, uma visão geral da vanguarda brasileira  que influenciou as gerações futuras.

Marcelo do campo, movimento terrorista

No Projeto Parede, que se encontra no corredor do MAM entre o saguão e a Sala Milú Villela, a instalação “Paisagem Moderna” de Leda Catunda atrai a atenção do visitante, uma colagem concebida de tecidos e estampas algumas criadas e outras apropriadas formando uma visão idealizada por diversos artistas modernos como Portinari, Guignard e Tarsila de um país belíssimo em busca de um sonho, fora da realidade atual.

A arte sempre refletiu os momentos cruciais de uma época, captando as nuances da sensibilidade humana em confronto com a complexidade existencial movida pela sua própria fragilidade e pelos desafios que surgem inesperadamente.

O MAM em seus 70 anos foi palco das radicais mudanças culturais ocorridas, compondo um percurso repleto de realizações, mostras contundentes a refletir o dinamismo da expressão artística que não se atém a limites ou imposições, mas extrapola uma energia vital proporcionando reflexões e experiências fabulosas.

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José Henrique Fabre Rolim

Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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