Tatuagem é uma das maiores expressões artísticas humanas. Também pode ser a mais antiga.
A história das tatuagens é uma história de intercâmbio cultural global. A palavra vem de “tatau”, que é o mesmo em taitiano e samoano. Foi nas ilhas do Pacífico que os marinheiros europeus encontraram esta arte corporal. Esses marinheiros começaram então a fazer tatuagens, razão pela qual cidades portuárias, como Hamburgo, ainda são os líderes da cultura de tatuagem ainda hoje.
Isso revela algo fascinante sobre porquê tatuagens não são tratadas como uma arte “séria”. As tatuagens foram retomadas pelas ordens inferiores européias, assim elas obtiveram uma reputação plebeia, até criminosa, e ainda são vistas como desonrosas por alguns, apesar de se tornarem cada vez mais populares agora.
Se o propósito da arte é desafiar os espectadores – fazer uma afirmação ou alterar as percepções -, então uma tatuagem também não pode ser considerada arte? Como a maioria dos temas debatidos, a resposta é subjetiva, e muda dependendo de quem você está falando. De acordo com Cristian Petru Panaite, curador assistente de exposições na Sociedade Histórica de Nova York (NYHS), a resposta é simples: se uma pessoa pretende que suas tatuagens sejam arte, elas são.
“Nossa pele é uma dádiva, é um tipo especial de tela”, afirma Susanna Kumschick, antropóloga e curadora suíça. “Na antropologia, a tatuagem é um grande assunto, porque é observada em tantas culturas e tradições. Mas comecei a pesquisar e percebi que ela nunca tinha sido abordada em museus de arte ou design, apenas em museus de história e civilização”, conta.
“No século XIX, mulheres aristocratas se tatuavam tanto quanto artistas de circo, mas não mostravam seu corpo.Tatuagens estão mais na moda agora porque nossa pele hoje fica bem mais exposta que antigamente, então é como se fosse um meio de comunicação”, argumenta a artista. “Dependendo do lugar onde uma tatuagem é aplicada, ela quer dizer uma coisa. Se for no rosto, é praticamente uma declaração, diferentemente do que ocorre se estiver no peito ou no tornozelo.”
O artista multidisciplinar Bruno Levy vê a tatuagem como uma das mais puras formas de arte, não contaminadas pelas convenções do mundo da arte moderna, nem pelo dinheiro. “É uma linguagem visual muito poderosa”, diz ele, observando que a forma de arte não tem mercado secundário, nem colecionadores que querem armazenar seu trabalho em um porão ou jogá-lo fora quando decidirem que não combina com o sofá. Tatuagem é uma arte que anda ao redor do mundo com alguém, enquanto eles vivem.
A tatuagem também coloca muitas das mesmas perguntas que uma obra de arte ou uma exposição faz. Como a colocação desse desenho muda sua relação com o espaço? Como a colocação desta rosa na mão, ao invés no torso, muda sua relação com o corpo e (possivelmente) com outras tatuagens ao redor?
“Como um artista de tatuagem, o papel do tatuador é entrelaçado com o papel do artista”, diz Levy. “A mão do artista vai criar as coisas de forma diferente cada vez, porque não somos máquinas.”
Via: Artsy, The Guardian, BBC e Highbrow Magazine.
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