Arte brasileira

J. Borges, o mestre da xilogravura: biografia, obras e legado

Por Thais de Albuquerque - julho 29, 2025
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J. Borges (1935–2024) foi um dos mais importantes nomes da arte popular brasileira, reconhecido por sua contribuição singular à xilogravura e à literatura de cordel. Nascido em Bezerros, Pernambuco, José Francisco Borges iniciou sua trajetória artística como cordelista nos anos 1960, vendendo folhetos ilustrados em feiras e mercados do interior nordestino. A necessidade de ilustrar suas histórias o levou a aprender a técnica da xilogravura, desenvolvendo um estilo visual direto, narrativo e profundamente ligado às tradições populares do sertão.

J. Borges
‘Discurso da onça’ 1990, de J. Borges. Crédito: Instagram @memorialjborges

Sua produção mistura o cotidiano nordestino, cenas do folclore, religiosidade, festas e crenças populares. Ao longo de sua carreira, J. Borges publicou centenas de folhetos e criou milhares de gravuras, sempre mantendo o compromisso com uma arte acessível, pedagógica e com forte identidade regional. Com traço firme e expressivo, suas obras rapidamente ultrapassaram o universo do cordel e passaram a ser reconhecidas como parte do patrimônio artístico brasileiro.

Principais obras

J. Borges criou centenas de folhetos de cordel ilustrados por suas próprias xilogravuras, com temas fortemente ligados ao nordeste brasileiro — desde o cotidiano sertanejo até lendas e personagens do imaginário popular. Entre suas produções mais conhecidas e documentadas, destacam-se:

“O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina” (1964) – seu primeiro cordel original, com ilustração de capa feita por Mestre Dila; o sucesso da publicação o levou a se tornar aprendiz da xilogravura

“A Vida na Floresta” – gravura escolhida para ilustrar o calendário das Nações Unidas em 2002, marcando seu reconhecimento internacional

J. Borges
“A Vida na Floresta”, de J. Borges.

Matizes e gravuras que foram adquiridas por instituições como o Museu do Louvre, o Smith­sonian e o Museu de Arte Moderna de Nova York, refletindo sua importância global

Sua produção visual se caracteriza por uma síntese forte e expressiva, onde cada gravura é uma narrativa completa — seja sobre “o amor”, “a seca”, “a fé” ou “o cangaço” — transmitida com traço incisivo e carga simbólica popular.

Reconhecimento

J. Borges foi considerado pelo escritor Ariano Suassuna como um dos grandes mestres da arte popular brasileira. Teve obras incluídas no acervo de importantes instituições, como o Museu de Arte do Rio (MAR), o Museu do Pontal e a Fundação Joaquim Nabuco. Também participou de exposições internacionais na França, Alemanha, Cuba, Itália e Venezuela, sendo aclamado como embaixador da cultura nordestina.

Em 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva presenteou o Papa Francisco com uma gravura de J. Borges intitulada Sagrada Família. A escolha da obra para o encontro com o pontífice reforçou a importância simbólica e artística do artista: uma representação religiosa com a linguagem da xilogravura popular nordestina, levando ao Vaticano uma imagem com a identidade cultural brasileira.

J. Borges
Presidente Lula presenteia o Papa Francisco com obra de J. Borges — Foto: Vatican News/Divulgação

Acervo e representação

J. Borges teve sua obra amplamente divulgada por meio do Memorial J. Borges, criado em sua cidade natal, e também através de exposições promovidas por instituições públicas e privadas. Mesmo após sua morte, seu trabalho continua representado em coleções de museus e permanece disponível para o público através de iniciativas culturais e familiares que cuidam de seu acervo e mantêm viva sua memória artística.

J. Borges
‘Briga da Onça com a Serpente’, de J. Borges. Crédito: divulgação

Legado

Em julho de 2024, J. Borges faleceu aos 88 anos, deixando uma marca profunda na cultura brasileira. Seu trabalho permanece como um testemunho vívido da arte popular e do poder da imagem para contar as histórias do povo. A xilogravura de J. Borges seguirá viva como documento, símbolo e resistência de uma cultura que ele tanto ajudou a preservar.

Seu legado vai além da produção artística. Borges foi também um formador e incentivador de novos gravadores, mantendo em Bezerros o Memorial J. Borges, espaço dedicado à preservação de sua obra e à formação de jovens artistas da região. Sua atuação foi fundamental para consolidar a xilogravura como linguagem autônoma dentro da arte contemporânea brasileira.

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