O que é Arte Decolonial e por que esse conceito transforma a arte contemporânea?
A arte decolonial é uma expressão que ganha cada vez mais espaço no cenário contemporâneo por propor uma ruptura crítica com os valores impostos pelo colonialismo europeu. Mais do que uma corrente estética, trata-se de um posicionamento político e epistêmico que busca questionar as estruturas coloniais que ainda influenciam a produção e o consumo de arte no mundo todo.
Embora o colonialismo formal tenha terminado há décadas, seus impactos seguem vivos nas formas de representação, nos museus, nos currículos acadêmicos e na própria definição do que é ou não considerado “valioso” artisticamente. O pensamento decolonial, que tem raízes na América Latina — com nomes como Aníbal Quijano, Walter Mignolo, Silvia Rivera Cusicanqui e, no Brasil, Lélia Gonzalez — propõe valorizar saberes, culturas, histórias e estéticas marginalizadas pelo projeto colonial. Gonzalez, inclusive, antecipou debates centrais do pensamento decolonial ao articular raça, gênero e cultura a partir da vivência das mulheres negras latino-americanas.
Como o pensamento decolonial se manifesta na arte brasileira?
Na arte contemporânea brasileira, o pensamento decolonial se traduz em uma diversidade de práticas que enfrentam o legado colonial de forma crítica e criativa. Entre os principais eixos, estão:
Resgate de saberes indígenas e afro-brasileiros: muitos artistas incorporam referências visuais, espirituais e simbólicas dessas culturas, rompendo com a hegemonia da arte ocidental.
Uso de materiais e técnicas tradicionais: cerâmica indígena, trançados quilombolas, grafismos ancestrais e elementos rituais aparecem como linguagem e resistência.
Obras em Destaque
Crítica às estruturas coloniais: as obras abordam temas como racismo, violência, apagamento histórico e desigualdade social.
Ampliação de vozes periféricas: artistas de comunidades indígenas, negras e periféricas vêm conquistando espaço e protagonismo no circuito artístico.
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Exemplos de artistas e práticas decoloniais no Brasil
Rosana Paulino tensiona o apagamento das mulheres negras na história do Brasil com obras que costuram, reconstroem e reconfiguram narrativas de dor e resistência.

Ayrson Heráclito conecta arte, performance e espiritualidade afro-brasileira, evocando rituais do candomblé e símbolos da diáspora africana.

Denilson Baniwa é artista visual, curador e ativista dos direitos indígenas. Considerado um dos artistas mais relevantes e influentes da arte contemporânea nacional, Denilson foi imerso desde cedo nos contos e tradições de seu povo.

Jaider Esbell (1979–2021), artista indígena Makuxi, usou a arte como ferramenta de afirmação cosmológica e política dos povos originários.

Por que falar de arte decolonial agora?
Com o crescimento de debates sobre representatividade, justiça social e reparações históricas, a arte decolonial não é apenas um campo emergente — ela é uma urgência crítica diante das desigualdades ainda vigentes nos sistemas de arte, educação e cultura.

