Vik Muniz, apelido para seu nome de nascença Vicente José de Oliveira Muniz, o artista cresceu em uma casa modesta no centro de São Paulo com seus pais e seus avós maternos.
Por causa de sua dislexia, a avó de Muniz lia para ele a Enciclopédia Britânica, o único livro que tinham na estante. Aos sete anos, Muniz sabia ler, mas ainda não sabia escrever e em vez disso, ele começou a desenhar compulsivamente em seus cadernos e desenvolveu um sistema de escrita que somente ele podia entender.
Hoje, ele considera esses desafios e sua relativa falta de educação formal como vantagens e distinções em sua prática artística.
Em 1975, aos catorze anos, Vik Muniz ganhava dinheiro consertando televisões, e na mesma época um professor viu seus desenhos e recomendou sua participação em um festival de artes patrocinado pelo estado, realizado entre escolas públicas.
Como fruto de seu talento inigualável, Muniz participou desse concurso e ganhou uma bolsa parcial para estudar em uma academia de desenho e escultura. Como ele lembra, seus três anos aprendendo a desenhar e modelar sólidos geométricos e nus ensinaram quase tudo sobre arte.
Vik Muniz aprendeu principalmente como organizar informações visuais de maneira hierárquica, dando a ele uma compreensão mais detalhada dos mecanismos de representação. Embora a academia não tenha oferecido cursos de arte contemporânea, Muniz manteve contato com o cenário artístico brasileiro e internacional através de leituras, visitas a museus e apresentações de teatro.
Em 1983, depois de deixar uma festa, Vik Muniz foi baleado acidentalmente na perna após tentar ajudar a vítima de uma briga. Para não apresentar queixa, o atirador ofereceu uma quantia considerável em dinheiro e Muniz aceitou.
Com isso, ele comprou uma passagem para os Estados Unidos, onde morava com sua tia materna nos subúrbios de Chicago. Falando pouco inglês, Muniz ajudou a cuidar de seus primos e trabalhou no estacionamento de um supermercado. Sem muitos amigos, ele lembra que ler o jornal e assistir TV foi reconfortante e permitiu que ele participasse desse novo ambiente.
Depois de visitar Nova York pela primeira vez em 1984, Vik Muniz decidiu se mudar para a cidade. Ele morou em East Village e trabalhou em vários empregos, tendo aulas noturnas em direção de teatro e cenografia.
No início, Muniz planejava trabalhar na indústria do teatro, mas seu trabalho em uma loja de molduras levou a um primeiro contato com a cena artística de Nova York. Depois de conhecer artistas e ir às aberturas, ele finalmente alugou seu primeiro estúdio no Bronx, onde começou a produzir esculturas e objetos.
Em 1988, Muniz exibiu seu trabalho pela primeira vez em P.S. 122, um espaço para apresentações em uma escola abandonada em East Village. Logo depois, ele vendeu suas primeiras peças e começou a expor frequentemente nos Estados Unidos e na Europa.
O que marcou Muniz como diferente de muitos de seus colegas fotográficos na época foi sua metodologia. Começando com sua série The Best of Life, ele evitou o modo tradicional de fotografia, não apenas tirando fotos e apresentando-as como arte, mas usando o meio da fotografia como um elemento para inventar obras de arte compostas de maneira única.
Depois de desenhar de memória as páginas da revista Life, ele fotografou seus desenhos e os apresentou como arte. Posteriormente, ele recriou fotografias de ícones culturais, como a Mona Lisa ou Marilyn Monroe, usando materiais estranhos, como calda de chocolate ou geleia.
A fotografia se tornou uma inspiração, uma ferramenta e um passo sistemático em seu processo criativo geral.
Muniz viveu em Paris por um ano e meio (devido ao crescente interesse em seu trabalho na França), antes de retornar a Nova York em 1992 com um visto de residência permanente.
Nessa época, ele decidiu se concentrar na fotografia como o meio essencial para o seu trabalho, revelando sua preocupação com “a lógica da percepção”. Em 1993, Muniz e seu amigo Kim Caputo criaram e se tornaram editores da revista de fotografia contemporânea Blind Spot.
Um momento decisivo em sua carreira que estabeleceu sua reputação no mundo da arte ocorreu em 1996, quando Muniz criou a série Sugar Children.
Tendo crescido sob o regime militar brasileiro (1964-1985), Muniz estava acostumado à censura e ao fato de que as pessoas não podiam falar livremente, mas precisavam se expressar por meio de duplos significados. O conceito de duplo significado se tornaria um motivo importante em Sugar Children e em todos os seus trabalhos futuros.
Sugar Children consistia em imagens fotográficas de crianças que ele encontrou no Caribe desenhadas com açúcar em papel preto. Os belos trabalhos desencadeavam reflexões mais profundas sobre as condições de trabalho dessas crianças, cujo trabalho proporcionava ao mundo coisas altamente precificadas.
O projeto também propagou ainda mais o estilo “fora da caixa” de Muniz, usando processos e materiais altamente experimentais para expandir suas obras de arte da mera fotografia em mídia mista, adicionando camadas conceituais às imagens, fazendo com que os espectadores considerassem mais do que apenas estética visual.
Muniz continuou a exibir com frequência e também começou a ganhar visibilidade no Brasil. Sua primeira exposição individual em um grande museu ocorreu em 1998 no International Center for Photography em Nova York.
Inspirado em Spiral Jetty (1970), de Robert Smithson, em seu estúdio, de 2002 a 2006, Muniz criou uma série de fotografias de terraplenagem que consistiam em imagens de objetos mundanos, como uma tomada elétrica, uma tesoura, uma chave, um cabide de roupas e um tubo.
Essas imagens foram escavadas na paisagem do norte do Brasil usando GPS e equipamentos de construção. Pendurado em um helicóptero, ele fotografou as terraplenagens, recriou as imagens na areia de seu estúdio e as fotografou novamente. Os trabalhos resultantes referenciaram as linhas peruanas de Nazca, The Treachery of Images (1929), de Rene Magritte, e o movimento Land Art no geral.
A partir dos anos 2000, Muniz expandiu sua prática artística, dando palestras em várias universidades e museus, curando exposições de fotografia em todo o mundo e desenhando capas para a New York Times Magazine.
Em 2009, após sua aclamada primeira exposição retrospectiva, realizada nos principais museus brasileiros de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, Muniz decidiu morar em meio período no Rio de Janeiro, reconectando-se ao seu país depois de ter morado no exterior por quase trinta anos.
Em 2010, o documentário Waste Land detalhou o processo de criação da série Lixo Extraordinário de Muniz, que resultou de três anos trabalhando com os catadores no Jardim Gramacho – RJ, um dos maiores lixões do mundo.
As críticas que diziam que o artista havia lucrado com a venda das fotografias Sugar Children, enquanto os sujeitos continuavam vivendo na pobreza, o inspiraram a usar esse projeto para melhorar a vida dessas pessoas representadas em suas obras.
No ano seguinte, a UNESCO nomeou Muniz como embaixador da boa vontade “em reconhecimento às suas contribuições para a educação e o desenvolvimento social por meio de sua carreira artística”.
Seu altruísmo artístico continuou em 2015, quando ele abriu a Escola Vidigal, uma escola de arte e tecnologia que visa introduzir a ideia de alfabetização visual para crianças de uma comunidade carente do Rio de Janeiro.
Muniz concluiu sua primeira obra de arte pública permanente em Nova York em 2016, uma obra-prima de azulejos de mosaico chamada Perfect Strangers, localizada no metrô da Second Avenue na estação 72nd Street.
Até hoje o artista continua expandindo sua prática, trabalhando com diferentes mídias e contextos. Uma auto-descrita “ilusionista de baixa tecnologia”, a missão de Muniz é ensinar o público a refletir sobre os conceitos de ilusão e percepção incorporados em nossa psique e a questionar o que está por baixo ou por trás das imagens cotidianas.
Vik Muniz continua apresentando arte que contém múltiplos significados, tanto na resposta imediata a seus estímulos visuais quanto na reação à sua mensagem subjacente.
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