Arte Conceitual: todos falam, mas qual o seu real significado?
As preocupações estéticas e materiais passam a ter um papel secundário nesse movimento artístico.
![Arte Conceitual: todos falam, mas qual o seu real significado?](https://arteref.com/wp-content/uploads/2017/04/Damien-Hirst-Via-Widewalls.jpg)
A arte conceitual é, provavelmente, o movimento com a abordagem mais radical e controversa da arte contemporânea.
Ele baseia-se na noção de que a essência da arte é uma ideia ou conceito, e que podem existir distintas formas de representá-la, até mesmo na ausência de um objeto.
Questiona-se a noção de arte em si; tanto que alguns artistas acreditam que a arte é criada pelo espectador, e não pelo artista ou pela própria obra.
Como ideias são a principal característica, as preocupações estéticas e materiais passam a ter um papel secundário. Artistas conceituais reconhecem que toda arte é essencialmente conceitual.
![Maurizio Cattelan. Kaputt (2013) | Fundação Bayeler](https://arteref.com/wp-content/uploads/2017/04/Maurizio-Cattelan.-Kaputt-2013-Fundação-Bayeler.jpg)
Via artsy
Para enfatizar esses termos, eles reduzem a presença material da obra a um mínimo absoluto, uma tendência que alguns chamam de desmaterialização da arte — que é uma das principais características da arte conceitual. Como muitos exemplos mostram, o próprio movimento da arte conceitual emergiu como uma reação contra os princípios do formalismo.
Obras em Destaque
O formalismo considera que as qualidades formais de uma obra — como linha, forma e cor — são autossuficientes para sua apreciação e todas as outras considerações como aspectos representacionais, éticos ou sociais são secundárias, ou redundantes.
Apesar do termo geralmente se referir à arte feita entre meados da década de 1960 e meados da década de 1970, ela continua sendo utilizada no século XXI.
História da arte conceitual
O surrealismo e o movimento dadaísta foram as principais fontes do conceitualismo inicial. Como a arte conceitual rejeita a representação materialista das obras de arte, muitos conectaram arte conceitual ao minimalismo.
No entanto, os artistas conceituais rejeitaram a comparação com o minimalismo. Para a arte conceitual, ela não precisa parecer uma obra de arte tradicional, nem mesmo assumir qualquer forma física.
Sol LeWitt e Joseph Kosuth foram os primeiros a insistir que a arte verdadeira não é um objeto físico único ou valioso criado pela habilidade física do artista, como desenho, pintura ou escultura, mas um conceito ou uma ideia.
![Sol LeWitt. Uma parede dividida verticalmente em quinze partes iguais, cada uma com uma direção e cor diferentes da linha e todas as combinações (1970)](https://arteref.com/wp-content/uploads/2017/04/Sol-LeWitt.-Uma-parede-dividida-verticalmente-em-quinze-partes-iguais-cada-uma-com-uma-direção-e-cor-diferentes-da-linha-e-todas-as-combinações-1970.jpg)
Em vez de realmente fazer desenhos de parede, Sol LeWitt produziu instruções, consistindo de texto e diagramas, descrevendo como seus desenhos de parede poderiam ser feitos.
Quando um artista usa uma forma conceitual de arte, significa que todo o planejamento e decisões são feitos antecipadamente e a execução é um assunto superficial. A ideia se torna uma máquina que faz a arte.
Além de outros ramos da arte, a Filosofia da linguagem de Wittgenstein, os filósofos pós-estruturalistas e pós-modernos, como Jacques Derrida, Michel Foucault e Gilles Deleuze foram fontes muito importantes para impulsionar o desenvolvimento da arte conceitual.
Considerando as características ditas anteriormente, talvez Joseph Beuys estivesse certo quando disse que “toda pessoa pode ser um artista”.
A arte conceitual, embora não tenha valor financeiro intrínseco, pode transmitir uma mensagem poderosa e, portanto, servir de veículo para questões sociopolíticas.
A influência de Marcel Duchamp
O “pai” do movimento da arte conceitual é Marcel Duchamp. Seu trabalho mais conhecido é A Fonte (1917), que radicalizou completamente a própria definição de obra de arte.
Essa nova “direção” da arte abandonou a beleza, a raridade e a habilidade como medidas. Com este trabalho, o artista rompeu o vínculo tradicional entre o talento dos artistas e o mérito do trabalho.
![Marcel Duchamp. A Fonte (1917)](https://arteref.com/wp-content/uploads/2019/10/img_dadaismo_o_que_e_e_como_surgiu_20077_600.jpg)
Principais características da arte conceitual
- Rompimento com os valores tradicionais artísticos de valorização da forma (estética)
- O conceito / ideia por trás da obra é mais importante que a obra em si
- Desmaterialização da arte — redução do objeto artístico ao mínimo absoluto
- Forte influência dos ready-mades de Marcel Duchamp
Trabalhos artísticos conceituais
![arte conceitual; Piero Manzoni. Merda de Artista (1961)](https://arteref.com/wp-content/uploads/2017/01/piero-manzoni-900x500.jpg)
Esse trabalho consiste numa série de 90 latas, traduzidas em variadas línguas. Elas contêm as fezes do próprio artista. Fortemente influenciada pela ideia dos ready-mades de Marcel Duchamp, Manzoni vendia as latas com fezes ao preço elevado.
Manzoni é um dos pioneiros a questionar os valores e características de uma obra de arte.
![arte conceitual; Joseph Kosuth. Uma e Três Cadeiras (1965)](https://arteref.com/wp-content/uploads/2017/04/Joseph-Kosuth-One-and-Three-Chairs-1965-.jpg)
Uma cadeira fica ao lado de uma fotografia de uma cadeira e uma definição de dicionário da palavra cadeira. Talvez todos os três sejam cadeiras ou códigos para uma: um código visual, um código verbal e um código na linguagem dos objetos
As três diferentes representações sobre o mesmo conceito (cadeira), estimulam diferentes visões do espectador sobre o mesmo objeto artístico.
Aqui, Richard Long caminhou para trás e para frente em um campo até que o mato pisoteado capturasse a luz do sol e se tornasse visível como uma linha. Ele fotografou o trabalho como um meio de registrar a intervenção física humana na paisagem natural.
Ewa Partum usou a performance como um meio de criar sua poesia. Seus trabalhos poéticos foram feitos pegando letras individuais do alfabeto (recortadas em papel) e espalhando-as nas localidades da cidade e do campo. Ao desconstruir a linguagem, a artista buscou explorar suas estruturas.
![arte conceitual; Joseph Beuys. Eu gosto da América e a América gosta de mim (1974)](https://arteref.com/wp-content/uploads/2017/04/Joseph-Beuys.-Eu-gosto-da-América-e-a-América-gosta-de-mim-1974.jpg)
Beuys pegou um cobertor e passou três dias em uma sala com um coiote. O trabalho era uma expressão de sua postura anti-Guerra do Vietnã e também refletia suas crenças sobre os danos causados pelo colonizador europeu ao continente americano e suas culturas nativas.
Baldessari é mais conhecido por obras que misturam materiais fotográficos (como fotos de filmes), tiradas do contexto original e reorganizadas em outra forma, geralmente incluindo a adição de palavras ou frases.
Resumindo
Quando se trata de arte conceitual, é a ideia e o processo artístico por trás da criação da obra que realmente conta. Então, em vez de olhar para formas, cores e linhas para avaliar e decifrar trabalhos conceituais, tente pensar em quais reações eles te proporcionam.
Te faz pensar algo? O quê? Faz você rir? O que diz sobre diferentes categorias, como espaço e tempo? Ao responder a essas perguntas, você estará mais próximo de entender e apreciar a arte conceitual.
Muito boa a reportagem sobre arte conceitual. Em linguagem simples define uma arte tão complexa.
“os danos causados ao colonizador europeu ao continente americano”
Aqui não seria “pelo” no lugar de “ao”?