O maior pintor do século XX, mais conhecido como Pablo Picasso (1881–1973), teve uma existência repleta de mitos, histórias dramáticas e pitadas de acontecimentos fantásticos. O próprio Picasso tratou de romancear sua vida, recontando com menos verdade e mais exagero certos episódios da infância, juventude e vida adulta.
Em meio a essas histórias cheias de exageros, não faltaram momentos incríveis e improváveis que aconteceram exatamente como foram contadas pelo artista no decorrer da sua vida.
O mito do artista também se mescla com problemas prosaicos envolvendo mulheres, filhos, amigos e familiares. Não há nenhum deus em Picasso, apenas um homem cheio de paixões e temores.
A seguir, confira 15 curiosidades sobre a vida do pintor e escultor espanhol, que deixou para sempre sua marca na história da arte.
O pai de Picasso, José Ruiz Blasco, também era pintor, mas nunca teve o talento que seu filho mostraria tão precocemente. Foi ele quem iniciou Pablo na arte e foi também seu primeiro professor, mas logo o aluno superou o mestre.
Novamente em um provável exagero de Picasso, ele conta que o pai, ao ver a sua pintura “Mendigo com boné”, percebeu que nada mais poderia fazer ou ensinar: entregou-lhe pincéis e paleta e disse que jamais pintaria novamente.
Quando Picasso tinha treze anos, sua irmã mais nova, Conchita, morreu de difteria, o que deixou o pintor muito abalado. Durante a doença, ele chegou a fazer uma promessa que focava em sacrificar sua grande paixão: jamais pintaria novamente caso ela se salvasse.
No ano de 1899, Pablo Picasso passou por uma quase morte. Quando viajou com seu amigo Manuel Pallarés para El Maestrat, em Valência, eles foram subir um morro por uma trilha, onde pretendiam passar alguns dias pintando. Nesse percurso Picasso quase caiu de um penhasco, mas seu amigo conseguiu o segurar pela mão nos últimos segundos que antecederam a queda.
No segundo encontro entre Henri Matisse e Picasso, orquestrado pelos irmãos Leo e Gertrude Stein, Matisse levou uma figura africana do Congo que tinha acabado de comprar na Rue de Rennes.
A figura, de rosto distorcido, fascinou o pintor espanhol. Mas o poeta e pintor Max Jacob conta outra história: que ele levara para jantar na casa de Matisse o poeta Guillaume Apollinaire, o escritor André Salmon e Picasso.
Lá, o anfitrião teria lhes mostrado uma figura africana sentada, prestes a devorar uma fruta e cujos olhos eram representados por duas pequenas conchas. A imagem teria inspirado Picasso de modo crucial.
Por pouco tempo, em 1907, o primeiro filho de Picasso foi um filho adotivo. Sua amante na época, Fernande, insistia em formar uma família. O pintor só tinha olhos para sua criação em processo, “Les Deimoselles d’Avignon”.
Sozinha, Fernande decidiu ir até um orfanato e trouxe uma menina de dez anos, Raymonde. Picasso chegou a desenhá-la um pouco, mas ela não encontrou em Picasso e Fernande uma família. Dois meses depois, Max Jacob foi encarregado de devolvê-la ao orfanato.
“Quis penetrar sempre mais fundo no conhecimento do mundo e dos homens, a fim de que esse conhecimento nos liberte cada dia mais” – Pablo Picasso.
Mesmo sendo considerado o maior pinto do século xx, Picasso, em seus primeiros anos em Paris, quando trabalhava no ateliê da Bateau-Lavoir, foi um grande usuário de ópio, fumado em grandes cachimbos. A droga era muito comum nas festas promovidas entre a comunidade artística.
Contudo, quando um artista alemão local, Wiegels, morreu pelo uso da substância, todos decidiram que era hora de acabar com a prática.
Picasso podia ser insistente quando se tratava de amor e mulheres. Uma das paixões de sua vida — posterior inspiração para inúmeros quadros — foi Marie-Thérèse Walter. Ela conta que se conheceram em Paris, em 8 de janeiro de 1927, quando saía do metrô em direção à Galeries Lafayette e Picasso passava pelo Boulevard Haussmann.
Ele teria ficado tão encantado que a puxou pelo braço, disse que queria fazer um retrato seu e que, juntos, “fariam grandes coisas”. Outra versão do encontro narra que Marie-Thérèse estava com sua irmã no passeio, elas estavam na Gare Saint-Lazare para pegar o trem depois de sair da galeria e Picasso as seguiu até lá, espiando por um buraco no jornal. Quando finalmente abordou sua musa, disse que passaria a ir lá todos os dias às 18h horas para encontrá-la.
Às vésperas da Segunda Guerra, Picasso sofreu um acidente de carro em Cannes e fraturou suas vértebras, o pintor sentiu dores por um bom tempo. Ele estava no carro de Roland Penrose, que viria a ser seu primeiro biógrafo, quando um outro carro os atingiu violentamente.
Em 1936, durante a Guerra Civil Espanhola, Picasso foi nomeado diretor do Museu do Prado, lar de obras de grandes mestres como Goya e Velázquez. Foi nesse local que o jovem pintor encontrara inspirações no começo de sua jornada, em suas primeiras visitas à Madri.
Apesar de servir como inspiração, o museu, naquele momento, estava vazio: as obras tinham sido retiradas e protegidas, já que a capital sofria com bombardeios. E Picasso, como diretor, nunca de fato exerceu alguma atividade no cargo, seria apenas uma grande honra para incluir na biografia.
Por um bom tempo, Picasso teve nada menos que quatro mulheres “ao mesmo tempo”. Olga, sua esposa oficial (já que não tinha conseguido se separar oficialmente por questões judiciais), embora eles não convivessem mais; a jovem Marie-Thérèse; Dora Maar; e a bela que recém conquistara o coração do pintor e que teria dois de seus filhos na década seguinte, Françoise Gilot.
Todas sabiam da existência umas das outras. Picasso manejava a esposa e amantes de acordo com suas conveniências, mas Françoise é quem ocuparia lugar de destaque em sua vida a partir daquele momento. No fim da vida, ainda viriam Geneviève Laporte e Jacqueline Roque.
Depois de se aventurar na poesia, marcadamente surrealista, Picasso se aventurou no teatro. Em janeiro de 1941, escreveu a peça “O desejo pego pelo rabo” (no original, “Le désir attrapé par la queue”).
Em março, o etnólogo Michel Leiris promoveria em sua casa uma leitura dramática despretensiosa que reuniu um elenco provavelmente imbatível: Albert Camus, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Jacques Lacan, Brassaï e Georges Braque, entre outros.
Em 1965, Françoise Gilot, agora sua ex-amante e mãe de seus filhos Claude e Paloma, lançou uma biografia, “Vivre avec Picasso” (“Viver com Picasso”), expondo muito de sua vida íntima.
O pintor ficou furioso, parou de ver os filhos e participou de protestos com diversos escritores que o apoiavam na proibição da obra, mas ele não conseguiu impedir a publicação.
A relação com seus filhos e netos era muito conturbada. Durante sua vida, Picasso teve relações frias com alguns deles e relações mais próximas com outros, mas a sua única filha legítima, dona de sua total atenção, era a arte.
Filhas como Paloma e Maya receberam mais amor e, mesmo assim, passavam longos períodos sem ver o pai. Já seu primeiro filho, Paulo, foi alvo de desprezo. Fracassado e dependente do dinheiro do pai durante toda a vida, Picasso nunca o admirou.
Tal desprezo foi transmitido para seus netos, filhos de Paulo. Um deles, Pablo, foi impedido de ir ao funeral do avô e acabou se suicidando pouco depois. Já Claude chegou a processar o pai para que fosse reconhecido legalmente como filho do artista, já que Picasso nunca se casou com Françoise ou outra mulher que não Olga.
Em 1963, foi inaugurado o Museu Picasso de Barcelona, após o artista decidir doar seus arquivos, mas o mesmo não foi à inauguração.
Em 1970, quando Picasso doou uma nova coleção imensa de seus quadros ao museu, antes em posse de familiares, uma grande festa estava prevista, mas o governo de Franco acabara de condenar à morte seis autonomistas bascos. Foi a deixa para o pintor protestar e cancelar qualquer cerimônia ou festa.
Picasso foi o único artista vivo a receber uma mostra no Louvre e a entrar para seu acervo. Em seu aniversário de 90 anos, oito telas adquiridas pelo governo francês foram expostas com uma grande festa no Grande Salão do Louvre, com a presença do presidente Georges Pompidou. Era uma despedida.
Via: Medium
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