Na Inglaterra, por um reduzido período, West e Copley tiveram uma relação de trabalho próxima e excessivamente competitiva – reconhecida na linguagem formal e nos temas de muitos de seus melhores trabalhos – um estilo que marcou a pintura Neoclássica e Romântica da sua e da próxima geração de artistas norte-americanos a partir do final do século XVIII até por volta de meados do século XIX.
Anglo-americano, filho de uma família quaker, Benjamin West cresceu em uma comunidade rural em Springfield, na Pensilvânia. Isolado em uma América colonial, as ambições artísticas o levaram aos vinte e dois anos a cruzar o Atlântico. Em Roma em 1760, West se aproximou do arqueólogo e pintor escocês, Gavin HAMILTON[1] (1723-1798) e de Anton Raphael MENGS[2] (1728-1779), ambos apoiadores de Johann Joachim WINCKELMANN[3] (1717-1768) e entusiasmados em estabelecer o estilo Neoclássico. Parece “surpreendente que um dos primeiros a sofrer a influência destes pintores tenha sido Benjamein West […] que chegou a Roma, vindo da Pensilvânia, em 1760, causando sensação; por ter sido o primeiro pintor americano a vir à Europa.” (JANSON, 1992, p. 582)
Após três anos de estudo e orientação de Mengs e Gavin Hamilton, West mudou-se para Londres. O momento foi oportuno e suas ambiciosas obras históricas logo ganharam grande renome e um quase monopólio do patrocínio real.
Orgulhoso de sua nacionalidade, West ocupou, em 1792, a presidência da Royal Academy de Londres, no lugar de Sir Joshua REYNOLDS[4], permanecendo no cargo até sua morte.
Um dos líderes do movimento neoclássico e romântico inglês, West ensinou uma geração de artistas americanos que ali o procuravam, promovendo os estilos juntamente com o tema da pintura histórica.
De volta à pátria, esses discípulos desenvolveram um estilo próprio, que marcou a pintura histórica, heroica e romântica norte americana do final do século XVIII até meados do século XIX.
O quadro retrata a morte de Wolfe no cerco de Quebec, durante a guerra entre franceses e indígenas, em 1759.
West inclui, ao redor de Wolfe, retratos de colegas oficiais, soldados, um colono e um indígena, criteriosamente representados nos armamentos e vestimentas do período apoiando a cena em um evento contemporâneo. Na composição, segundo a postura e expressão, West substitui o tema religioso e sagrado da lamentação e sacrifício, pela honra do nacionalismo histórico, alcançando, assim, inúmeros seguidores do gênero.
A história trata da tentativa de Luís XIV (1638-1715) da França, em 1692, de devolver Jaime II ao trono da Inglaterra. Em resposta, a Grã-Bretanha e os aliados holandeses, concentraram suas frotas por cinco dias na costa norte da França, perto de La Hogue, cercando os franceses. Alterando de certa maneira os acontecimentos, West soube condensar os eventos da batalha dramática ao romantismo do período, acrescentando à esquerda, o gesto heroico do vice-almirante George Rooke (1650-1709) com a espada levantada e à direita, a nau francesa jogada contra as pedras, na verdade, queimada e afundada dias antes. Esse arranjo romântico combinado à realidade dos fatos faz parte do neoclassicismo e do estilo de Benjamin West, marcando o estilo para gerações de artistas.
Nascido em Boston, enteado de um gravador inglês, Copley se estabeleceu primeiramente como pintor de retratos a partir de 1750. Próximo de completar trinta e seis anos, incentivado por Benjamim West, Copley partiu para Londres, onde foi apresentado à Sir Joshua Reynolds, na época na direção da Royal Academy.
Em 1774 Copley entrou em contato com as pinturas e esculturas francesas no trajeto para a Itália. As cidades de Gênova, Florença, Parma, Mântua, Veneza e as escavações em Pompéia em Nápoles fizeram parte de suas viagens de conhecimento enquanto permanecia em Roma estudando e pintando. Com a chegada da família em 1775, Copley retornou e se estabeleceu em Londres, adaptando-se à pintura de retratos na tradição inglesa e segundo Janson (1992, p. 583) “voltou-se para a pintura histórica à maneira de West.”
No estilo dos retratos ingleses, tendo como fundo uma paisagem idílica e um ambiente sofisticado, Copley se retrata por trás da família reunida, olhando para o observador.
A esposa Susanna abraça o filho John de quatro anos e a menina de três anos deitada no sofá se estica para o colo da mãe. A mais velha dos filhos, com cerca de seis anos, também observa no centro da composição, ereta e séria. A bebê brinca com o avô.
Com um talento especial para registrar o momento e as características físicas, Copley é apreciado por ultrapassar a simples documentação e revelar a personalidade do retratado.
Com a obra Watson e o Tubarão, exibida na Royal Academy em 1778, a propagação das gravuras alcançando imensa popularidade e as pinturas históricas bem sucedidas, com o tema do nobre herói morrendo em cenários, personagens e detalhes precisos segundo a época, Copley se tornou membro da academia inglesa em 1783 e reconhecido como grande pintor de obras históricas seguindo o exemplo de West, além de ser aceito pela família real e procurado por membros da corte inglesa e celebridades americanas para a pintura de retratos.
A imensa obra produzida por Copley influenciou profundamente os artistas norte-americanos, ajudando a definir a tradição histórica do país, combinando reportagem, idealismo e heroísmo na pintura.
Versões e estudo dessa obra no acervo do National Gallery of Art se encontram também nas coleções do Detroit Institute of Arts, do Metropolitan Museum of Art em Nova York e do Museum of Fine Arts, em Boston.
A pintura representa o futuro Lord Mayor de Londres, Sir Brook Watson (1735-1807), que, aos quatorze anos perde a perna para um tubarão ao nadar próximo ao porto de Havana, em Cuba em 1749.
A composição apresenta nove marinheiros ajudando o menino que acaba de perder o pé direito.
A exposição da obra, em 1778, causou uma enorme sensação, pois o tema de um acontecimento comum, tão recente e real nunca havia sido apresentado na pintura histórica inglesa ou tão pouco americana. É provável que Watson, que teve uma carreira de sucesso apesar do ataque, tenha encomendado a pintura como uma prova de que mesmo a adversidade mais severa pode ser superada.
De acordo com Janson (1992, p. 583) seguindo o exemplo de obras produzidas por West, ao aplicar a maior autenticidade possível em cada detalhe e uma alta carga emocional e simbólica, Copley aproximou-se do Romantismo.
JANSON H. W. História da Arte. Tradução J.A. Ferreira de Almeida; Maria Manuela Rocheta Santos. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992. 823 p.
NATIONAL GALLERY OF ART, Washington, EUA. Disponível em: https://www.nga.gov/collection/art-object-page.46098.html Acesso em: 01 set. 2021.
NATIONAL GALLERY OF ART, Washington, EUA. Disponível em: https://www.nga.gov/collection/art-object-page.46471.html Acesso em: 01 set. 2021.
NATIONAL GALLERY OF ART, Washington, EUA. Disponível em: https://www.nga.gov/collection/art-object-page.45885.html Acesso em: 27 ago. 2021.
NATIONAL GALLERY OF CANADA. Ottawa, ON, Canada. Disponível em: https://www.gallery.ca/collection/artwork/the-death-of-general-wolfe-0 Acesso em: 27 ago. 2021.
TATE BRITAIN, Millbank, Londres, UK. Disponível em: https://www.tate.org.uk/art/artworks/copley-the-death-of-major-peirson-6-january-1781-n00733 Acesso em: 02 set. 2021
[1] Saiba mais sobre Gavin HAMILTON (1723-1798) em https://arteref.com/artigos-academicos/a-pintura-neoclassica-de-gavin-hamilton/
[2] Saiba mais de Anton Raphael MENGS (1728-1779) em https://arteref.com/artigos-academicos/neoclassicismo-antiguidade-grega-imitacao-poesia/
[3] Saiba mais de Johann Joachim WINCKELMANN (1717-1768) em https://arteref.com/artigos-academicos/neoclassicismo-antiguidade-grega-imitacao-poesia/
[4] Sir Joshua REYNOLDS (1723 -1792) alcançou sucesso com a realização de retratos plenos de vigor e naturalidade, introduzindo a tradição de retratos impregnados de graça e beleza, próximos do estilo Rococó inglês. No entanto, na Academia já pregava sobre o gênero elevado da pintura histórica no período. Saiba mais sobre Sir Joshua REYNOLDS (1723-1792) em: https://arteref.com/artigos-academicos/pintura-inglesa-iluminismo-estetica-xviii/
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