SESC SANTO AMARO RECEBE EXPOSIÇÃO DE XILOGRAVURA

Por Paulo Varella - outubro 30, 2018
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De 10 de novembro a 17 de fevereiro, oito artistas da cena contemporânea da xilografia expõem seus trabalhos na mostra Madeira Nova;

Célia Barros faz a curadoria.

Obra Dicotomia do Ser, de Júlia Bastos, xilogravura sobre papel de arroz (2016)

Exposição traz quatro artistas do coletivo XiloCeasa: Gabriel Balbino,

Santidio Pereira, Igor Santos e Fernando Melo

Com mais de 20 trabalhos de oito artistas jovens, abre dia 10 de novembro no Sesc Santo Amaro a exposição Madeira Nova. A Mostra, que tem curadoria de Célia Barros, fica em cartaz no Espaço das Artes da unidade até 17 de fevereiro de 2019. A entrada é gratuita.

Fazem parte da exposição Madeira Nova os artistas Santidio Pereira, Luisa Almeida, Kamila Vasques, Igor Santos, Julia Bastos, Gabriel Balbino, Rafael Pinto e Fernando Melo. Em comum, possuem pesquisas direcionadas para a imagem em grande formato, buscando inovar nos materiais de impressão, com novas possibilidades de linguagem e valorização da investigação estética. A maioria das obras é inédita.

A reprodução por meio de matrizes de madeira visando a multiplicação de imagens começou a ganhar mais adeptos no Brasil no século XIX – antes não se têm notícias da prática em terras brasileiras, já que os portugueses não permitiam a existência de nenhum tipo de imprensa em sua colônia. Mas a partir do final do século, já é possível encontrar alguns trabalhos feitos por esta técnica, como a literatura de cordel. Mas existem outras tantas formas de consolidação da ‘xilo’. “Artistas hoje renomados tiveram, na xilogravura, sua principal fonte de investigação estética. Após uma efervescência da xilogravura em Lambe-lambe, que ocupou os espaços públicos da cidade de São Paulo nos anos 2000, os movimentos coletivos da gravura têm-se dedicado, mais recentemente, com euforia e ótimos resultados, às feiras gráficas, onde surgem novas parcerias em projetos editoriais, formando novos circuitos e mercados para a gravura contemporânea”, conta Célia.

A princípio, Célia chamou dois artistas – Santidio e Luisa – que já haviam participado de exposições em galerias – e pediu a eles que convidassem cada um outro jovem xilogravador, que chamaram outros dois e assim por diante. E assim surgiu Madeira Nova, que apresenta a evolução desta linguagem que nasce em ambientes mais populares, mas que hoje transita também nos meios acadêmicos.

Sobre os artistas e suas obras

As gravuras de Santidio Pereira, grande admirador de Henry Matisse, são o ponto de partida desta exposição. Geralmente o artista faz uso de sobreposições de cores, tendo ficado conhecido por suas xilogravuras em grande formato, de pássaros do Piauí, onde nasceu, e de onde vem as imagens de seus trabalhos. Nesta exposição, Santidio apresenta sua última safra de trabalhos.

Fascinado por programas de TV, Gabriel Balbino retrata animais como símbolos de força e resistência, como no caso do porco-espinho que conseguiu vencer uma píton. Participa, com Santidio, Igor Santos e Fernando Melo, do coletivo XILOCEASA, um grupo formado por 17 adolescentes, moradores da Favela da Linha, Favela do Nove e do conjunto habitacional Cingapura localizados nos arredores do CEAGESP. Há anos frequentam o curso de xilogravura do Ateliê Acaia, instituição dirigida pela artista plástica Elisa Bracher que oferece cursos educativos e profissionalizantes para mais de 320 crianças, jovens e adultos destas três comunidades. Juntos, participam de exposições individuais e coletivas e de intercâmbios culturais no Brasil e no exterior, além de feiras gráficas.

Igor Santos foi indicado por Santidio por ser um grande desenhista – ambos frequentam os ateliês do Instituto Acaia desde os 8 anos de idade, na zona oeste paulistana. Ali, sob orientação de Fabrício Lopez e Flávio Castellan, os artistas desenvolveram uma poética própria. A de Igor, por exemplo, retrata animais, desenhados diretamente na madeira para aproveitar seus veios naturais.

Fernando Melo explora diferentes meios de gravar e cultiva o estudo do desenho. Temas e composição se alteram conforme a necessidade do que quer expressar. A favela e as dificuldades na comunidade estão presentes, assim como arquiteturas mais sombrias.

Outra artista chamada diretamente por Célia foi Luisa Almeida, que traz para Madeira Nova suas mulheres. As personagens de seus trabalhos são ao mesmo tempo doces, sensuais e fortes – muitas delas empunham armas e mostram força no tema da luta política, mas também muita delicadeza nos detalhes da composição das cenas. São linhas limpas, nítidas, que mostram a precisão e a técnica do corte da madeira.

 

Kamila Vasques, formada em Artes Visuais com ênfase em Xilogravura no Centro Universitário Belas Artes em São Paulo, esteve como artista residente do Museu Lasar Segall em 2009. Kamila usa as palavras – texto, imagens, gravuras, desenhos – para criar caminhos abertos à interpretação do espectador. Para a artista, não interessa tanto decifrar o texto, mas encontrar um sentido em cada letra, onde a forma já é todo o conteúdo, potencializando a letra como imagem.

 

As figuras de Julia Bastos são impactantes. Impressas em papel arroz, duas das obras trazem personagens que regurgitam cristais e outra em que muitos dedos estão espalhados por toda a tela, cobrindo o corpo de uma mulher deitada. Para a artista, expelir cristais, exprime a rejeição daquilo que o corpo consome, mas também a vontade de se libertar daquilo que não lhe pertence. Os dedos soltos, todos apontados para um corpo em que não há expressão, sugerem uma sociedade sem rosto, repleto de violências contra o corpo da mulher.

 

Usando a sobreposição de planos criados em transparência, Rafael Pinto usa o medo que a ‘cidade grande’ provoca para explorar a formação de ruídos gráficos. As suas figuras transitam entre o mórbido, o mordaz e a iminência.

SERVIÇO

  • Madeira Nova
  • Exposição de xilogravuras
  • Sesc Santo Amaro (Espaço das Artes)
  • Com Santidio Pereira, Luisa Almeida, Kamila Vasques, Igor Santos, Julia Bastos, Gabriel Balbino, Fernando Melo e Rafael Pinto
  • Curadoria Celia Barros
  • Entrada gratuita
  • de 10 de novembro de 2018 a 17 de fevereiro de 2019
  • Horário da unidade: Terça a sexta, das 10h às 21h30. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30.
    Endereço: Rua Amador Bueno, 505.
    Acessibilidade: universal.
    Estacionamento da unidade: R$ 5,50 a primeira hora e R$ 2,00 por hora adicional (Credencial Plena); R$ 12,00 a primeira hora e R$ 3,00 por hora adicional (outros).
    Disponibilidade: 158 vagas para carros e 36 para motos. A unidade possui bicicletário gratuito.

 

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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