Literatura

Clarice Lispector e sua contribuição para o jornalismo cultural no Brasil

Com uma escrita única que ia para além dos livros, Clarice Lispector foi um ícone importante de representatividade feminina no jornalismo.

Por Paula - dezembro 5, 2019
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Clarice Lispector, admirada por sua trajetória no campo literário, será sempre apreciada pelo seu legado como escritora, poetisa e pensadora, mas você sabia que ela também contribuiu para a disseminação do jornalismo cultural no Brasil?

Poucos conhecem os trabalhos de Clarice Lispector como jornalista, mas ela sempre esteve presente na imprensa carioca não só como cronista ou entrevistadora, mas também como a redatora que se ocultava sob pseudônimos para produzir colunas femininas em jornais cariocas no início e no final da década de 1950.

Clarice Lispector
Clarice Lispector e a sua carteira do sindicato dos jornalistas

A iniciação de Clarice no jornalismo cultural

Clarice Lispector começou a colaborar na imprensa em 1942 e, ao longo de toda a vida, nunca se desvinculou totalmente do jornalismo. Trabalhou na Agência Nacional, nos jornais A Noite e Diário da Noite.


Clarice foi colunista do Correio da Manhã e realizou diversas entrevistas para a revista “Manchete”, além disso, a autora também foi cronista do Jornal do Brasil. Produzidos entre 1967 e 1973, esses textos estão reunidos no volume “A Descoberta do Mundo”.


“A Descoberta do Mundo”

A coletânea  “A Descoberta do Mundo” reúne 468 crônicas publicadas originalmente na coluna semanal que a escritora mantinha no Jornal do Brasil, entre 1967 e 1973.

Essa coletânea foi organizada em ordem cronológica e, conforme sugere o título, aborda temas diversos, sob o impacto de quem observa o mundo pela primeira vez – a descoberta.

O leitor passeia por assuntos de circunstância, descobre esboços de contos e é levado a reflexões sobre o ato da escrita, que, no caso da autora, é da ordem da experiência vital. Lutando contra o que mais temia, tornar públicos aspectos de sua intimidade, Lispector acabou aceitando o ofício de escrever para um jornal, o que a obrigava a um exercício permanente para alimentar a coluna a cada sete dias.

Clarice
Clarice em sua casa no Rio de Janeiro

A pressão de tempo acabou dando ao conjunto dos textos um teor autobiográfico, ao qual a autora não podia fugir, como indica em “Fernando Pessoa me ajudando”:

Estas coisas que ando escrevendo aqui não são, creio, propriamente crônicas, mas agora entendo os nossos melhores cronistas. Porque eles assinam, não conseguem escapar de se revelar. Até certo ponto nós os conhecemos intimamente. E quanto a mim, isto me desagrada. Na literatura de livros permaneço anônima e discreta. Nesta coluna estou de algum modo me dando a conhecer. Perco minha intimidade secreta? Mas que fazer? É que escrevo ao correr da máquina e, quando vejo, revelei certa parte minha. Acho que se escrever sobre o problema da superprodução do café no Brasil terminarei sendo pessoal. (…)”.

A obra traz momentos tocantes relacionados a memórias de infância em Recife, encontros e desencontros com amigos, relações familiares, livros e filmes de que gostava e, também, figuras que a marcaram, como a empregada Aninha. Porém, em nenhum texto Clarice se limita ao factual episódio doméstico, como o que ela relata em “Uma esperança”, impactos da tecnologia no cotidiano (como a “computadora”) deságuam em reflexões existenciais ou em questionamento social.

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Ladeada pelo pintor Carlos Scliar e o arquiteto Oscar Niemeyer, Clarice participa em 1968 de uma passeata contra a ditadura militar

Por vezes, é direta a crítica de Clarice, como quando se pronuncia sobre a educação: Senhor ministro ou Presidente da República, impedir que jovens entrem em universidades é um crime.”

Outro aspecto importante da obra clariceana revelada neste livro é o pendor para o humor, em diferentes matizes. A autora capta o flagrante tragicômico do cotidiano, recorre à sutileza da ironia, à provocação do humor negro, ao demolidor humor judaico que se volta contra o próprio narrador. Como no texto “Antes era perfeito”, que se resume a uma frase: “Ter nascido me estragou a saúde.


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Fonte:

ANNONI, Diego Dias, and Aparecida Maria Nunes NUNES. “LITERATURA E JORNALISMO EM CLARICE LISPECTOR: A NOÇÃO DE FEMINILIDADE NAS PÁGINAS FEMININAS.”

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Marcus Deminco
Marcus Deminco
3 anos atrás

Cara Paula. Como vai? Chamo-me Marcus Deminco – sou Psicólogo e Escritor. Autor de diversos livros traduzidos para vários países. atualmente, em virtude do centenário de nascimento da escritora Clarice Lispector, estou trabalhando na consecução da 2ª edição de uma obra biográfica da autora; “O Segredo de Clarice Lispector” – lançado a 1ª edição em 2008. Vi que você postou uma imagem da Clarice, e dessa maneira, me ajudaria IMENSAMENTE se você puder confirmar se essa imagem pode ser comercializada? Você sabe dizer se a imagem usada é de livre uso comercial ou possui restrições e/ou direitos privados de uso.… Leia mais