Escultura

“Ulysses” – José Rufino

Por Equipe Editorial - dezembro 6, 2012
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Quem é o artista? José Rufino
O que vai ter na exposição? Materiais coletados, como madeira, que ocupará 190 m3
É um bom programa? Sim
Até quando? 17 de fevereiro de 2013

José Rufino: Odisseia carioca na Casa França-Brasil

O artista paraibano José Rufino trabalha na “recriação” de Ulysses, na Casa França-Brasil. O herói homérico, também imortalizado por James Joyce, será reconstituído a partir de restos de materiais e de memórias coletados no Rio de Janeiro. Ulysses, o corpo e a obra, ocupará aproximadamente 190 m3 e se estenderá por praticamente todo o vão central do espaço, a partir de novembro

A baía de Guanabara se transforma na Grécia de Ulysses pelas mãos de José Rufino, artista contemporâneo que é também paleontólogo, e tem uma relação permanente com o passado. O convite da Casa França-Brasil levou-o a imaginar uma nova Odisseia, em que os traços do Rio – madeiras, pedras, ferros, concreto, conchas, cerâmicas etc. – são recombinados para compor o corpo do herói.

– Mais que uma imensa escultura, Ulysses é uma odisséia pela baía da Guanabara e pela cidade do Rio de Janeiro – explica José Rufino. – É uma transmutação da Odisséia de Homero para as águas, ilhas, mangues, rochedos, rios, e terras cariocas. É uma aventura que passa pelo mito homérico, pela saga do personagem do Ulysses de James Joyce e chega aos heróis e anti-heróis da cidade. É tão Macunaíma quanto Odisseu.

A composição deste novo e monumental Ulysses demanda toda uma logística que começa com a coleta de materiais. Desde setembro, José Rufino tem vindo ao Rio para esse garimpo pessoal das memórias impressas nas matérias recicladas e reutilizadas, que carregam suas próprias memórias.

– Minha relação com o passado e com a memória é muito profunda – explica o artista.  – Não é apenas a questão da recordação, e sim como usá-la para, de alguma forma, transformar o passado e modificar o status quo – diz.

José Rufino começa seus trabalhos muitas vezes a partir do lugar que ocupará. – No caso da Casa França-Brasil, parti mesmo de uma perspectiva de transformação – conta. – Comecei a imaginar o que estaria embaixo dela e a criar, mentalmente, um corpo para a cidade.

Uma obra de tal magnitude não poderia ser elaborada sem testes muito rigorosos. O espaço ideal para a primeira fase de montagem foi conseguido através de uma parceria do artista com o Galpão Aplauso, espaço cultural e social que funciona no Santo Cristo, e que prepara jovens artistas para as várias facetas que compõem o mundo do espetáculo.

O Ulysses de José Rufino

Segundo o artista, o corpo de Ulysses vai exibir uma estratigrafia deturpada, onde não serão respeitadas as classes de materiais e tampouco suas idades. – Nenhuma hierarquia será conferida a nenhuma época ou tipo de material. O Ulysses será um corpo híbrido, uma carcaça exumada em pedaços aleatórios – resume Rufino.

José Rufino conta que, desde a primeira reunião nas dependências da Casa França Brasil, foi como se já “ouvisse” o nome daquilo que se transformaria na obra. – Estava em cada canto visitado; era como se fosse percebido nas entrelinhas, visto numa etiqueta borrada, como se aparecesse rapidamente na base dos lampejos iniciais da forma da obra – explica.  – Mas eu já sabia que ele não seria de todo um nobre, que não seria um herói exumado do velho centro do Rio, que não seria uma homenagem ou uma exaltação das várias etapas de ocupação daquele terreno que já foi apenas um alagadiço. Já sabia que seria fragmentado, heterogêneo, carcomido, enferrujado, apodrecido. Sabia que seria ao mesmo tempo relíquia e restolho de uma escavação arqueológica anárquica. Deveria então ser um anti-herói, carregado de citações histórica, impregnadas nas suas partes – define poeticamente o autor.

O artista

José Rufino, nascido José Augusto Costa de Almeida, vive e trabalha em João Pessoa. Como artista, adotou o nome do avô paterno. Formado em Geologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde fez também o doutorado, é artista visual e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Desenvolveu sua jornada artística passando da poesia para a poesia-visual e, em seguida, para a arte-postal e desenhos, nos anos 1980. O universo do declínio das plantações de cana-de-açúcar no Brasil conduziu seu trabalho inicial, cujos desenhos e instalações tinham como matéria básica peças mobiliário e documentos, tanto de família quanto institucionais. Filho de ativistas políticos presos pela ditadura do regime militar brasileiro na década de 1960, o artista é também muito conhecido por seus impressionantes trabalhos de caráter político. Ultimamente tem realizado incursões na linguagem cinematográfica e desenvolve, cada vez mais, um trabalho misto de monotipias/móveis/objetos e instalações. O diálogo dicotômico entre memória e esquecimento contamina seu trabalho por completo.

Algumas exposições

2012 – Divortium Aquarum na Sala A Contemporânea, CCBB/Rio de Janeiro.

2011 – 2º Festival de Areia, em Areia/PB, com a obra 28.01.79.

2010Aenigma Galeria Millan, SP; Nausea Sala Nordeste Minc. Recife, curadoria Marcelo Campos; José Rufino: Blots & Figments The Andy Warhol Museum, Pittsburgh, EUA, curadoria Jessica Gogan; Faustus Palácio da Aclama­ção, Salvador, curadoria Marcelo Campos; Silentio Galeria de Arte Con­temporânea Casarão, Viana, ES, curadoria Neusa Mendes.

2008 – Nausea (segunda versão ampliada e outras obras), Centro Cultural Ban­co do Nordeste Fortaleza, curadoria Marcelo Campos; Quimeras Gale­ria Virgílio, SP, curadoria Adolfo Montejo Navas; Nausea Centro Cultural Banco do Nordeste, Sousa, curadoria Marcelo Campos.

2006 – Embaixada do Brasil em Berlim, Programa Copa da Cultura, Alema­nha, curadoria Luiz Camillo Osório.

2005 – Incertae Sedis Museu de Arte Contemporânea de Niterói, curadoria Claudia Saldanha e Luiz Guilherme Vergara; Axioma Galeria Amparo 60, Recife. 

2004 – Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, curadoria Moacir dos Anjos.

2003 – Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife, curadoria Moacir dos Anjos.

2002 – Memento Mori – Espaço Cultural Sérgio Porto,RJ, curadoria Moacir dos Anjos; Obliteratio – Centro Cultural São Francisco, João Pessoa.

2001 – Murmuratio – Museu Ferroviário, Vila Velha, curadoria Luiz Camillo Osório; Casa da Ribeira, Sala Petrobrás, Natal, curadoria Gustavo Wanderley

Serviço

Ulysses – José Rufino

De 24 de novembro de 2012 a 17 de fevereiro de 2013
Casa França Brasil
Rua Visconde de Itaboraí, 78 – Centro – Rio de Janeiro
Tel.: (21) 2332-5120

Horário de funcionamento: de terça a domingo das 10 às 20h

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