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Alberto Giacometti: vitalidade e modernidade


No panorama histórico da arte internacional, certos artistas se posicionam como ícones, representam parâmetros inovadores, impondo um dinamismo invulgar no seu processo criativo. Uma das grandes expressões do modernismo é sem dúvida alguma Alberto Giacometti (1901-1966).

Escultor e pintor suíço, desde sua juventude demonstrava grande talento notadamente com a pintura à óleo. Uma de suas primeiras obras denominada “Nature morte aux pommes” (Natureza-morta com maçãs), realizada aos 14 anos no atelier de seu pai Giovanni (pintor expressionista), se destaca ao lado do seu primeiro busto “Tête de Diego sur socle” (Cabeça de Diego sobre base) datado entre 1914 e 1915.

Natureza-morta com maçãs (Nature morte aux pommes), 1915 | Fondation Giacometti, Paris

Duas pessoas, porém, foram essenciais no seu percurso, o seu pai e o seu padrinho, o pintor simbolista suíço Cuno Amiet (1868-1961), incentivadores na consolidação da sua atividade artística.

Inicialmente, Gicometti partiu para Roma, aí permanecendo entres os anos 1920 e 1921. No ano seguinte, em 1922, se estabeleceu em Paris, estudou na Académie de La Grande Chaumière, seguindo o curso do grande escultor Antoine Bourdelle (1861-1929). Este aprendizado foi extremamente profícuo refletido nos magníficos desenhos de nus. Por outro lado, as suas esculturas cubistas, envoltas pelo ambiente da época, enaltecem a benéfica influência do escultor Jacques Lipchitz (1891-1973) e do pintor Fernand Léger (1881-1955).

No período de 1925 a 1928, ao executar esculturas de caráter densamente cubista, desenvolveu uma linguagem extremamente arrojada. Em 1929, sentindo outras necessidades estéticas, aderiu ao movimento surrealista, atraído pelos novos rumos, realizando objetos e construções de gaiolas (construction cages) como “Bola Suspensa”, 1930, Zurique, Kunsthaus. Dessa experiência traçou um senso mágico do espaço às vezes definido por meio de frágeis estruturas lineares (Palácio às 4 da manhã, 1923-33, Nova York, MoMA).

O sucessivo retorno à figura humana é observada nas relações entre espaço e ambiente, sugerindo com sutileza, uma indescritível sensibilidade plástica das figuras, evocando as formas de bronzes pré-históricos, contudo o seu tema predileto na escultura é a solidão, a vulnerabilidade do homem no infinito vácuo do espaço e de um tempo imensurável (Homem apontando, 1947, Londres, Tate Gallery).

Homem Apontando (L’Homme au doigt), 1947 | Créditos: Ron Amstutz © Alberto Giacometti Estate/Licensed by VAGA and ARS, New York, NY

Durante a II Guerra Mundial, permaneceu em Genebra consolidando as suas reflexões sobre a condição humana. No ano de 1947 voltou a pintar e a desenhar com modelo como nos anos de juventude cultivando ao mesmo tempo a escultura. O senso de angústia da existência que define a obra de Alberto Giacometti foi brilhantemente realçado por Jean Paul Sartre.

Em 1962 obteve o Grande Prêmio da Bienal de Veneza e em 1965, o Grand Prix des Arts de la ville de Paris. A Fondation Alberto et Annette Giacometti, instituída em 2003, na capital francesa possui um riquíssimo acervo com mais de 5000 obras, visando sobretudo resguardar e difundir por meio de exposições, publicações e eventos a extrema importância de um dos mais revolucionários artista do século XX.

As artes primitivas da África e da Oceania tiveram grande atração, influenciando sua escultura, a partir de 1926, porém, outros artistas em épocas anteriores já tinham mostrado interesse pela arte africana como o próprio Picasso e André Derain. A carga mágica do primitivismo na arte se faz sentir em diversas obras numa visão alicerçada no despojamento naturalista e acadêmico, buscando os fluxos libertários da expressão pura.

A sua participação no movimento surrealista concebido por André Breton (1896-1966) foi curta, tendo aderido à corrente em 1931, tornando-se um dos raros escultores surreais, mas foi excluído do grupo em 1935. No entanto o espírito surrealista permaneceu para sempre, evidenciado pela sua incrível capacidade criativa, buscando novas dimensões e desafios.

O Surrealismo e como ele moldou o curso da história da arte

Obras como “Tête qui regarde” (Cabeça que olha) que praticamente alertou o grupo surrealista em 1929, e a “Femme qui marche” (Mulher caminhando) de 1932, espelham a força de sua expressividade notável.

Tête qui regarde | Fondation Giacometti, Paris
Femme qui marche | Fondation Giacometti, Paris

Na área da arte decorativa, criou uma série de objetos utilitários como vasos, luminárias e arandelas que eram comercializados pelo famoso decorador vanguardista Jean Michel Frank (1895-1941). Realizou baixos-relevos em terracota para a família Louis-Dreyfus em Paris, como desenhou chaminés, lustres e consoles para a família Born de Buenos Aires, em 1939.

Após a 2º Guerra, Alberto Giacometti continua criando objetos como uma luminária com inspiração nos ritos funerários do Egito antigo, sem falar num lenço datado de 1959, uma encomenda da Aimé Maegth, sua vitalidade não tinha limites.

Importante é realçar a sua amizade com Jean Paul Sartre (1905-1980) iniciada em 1941, aliás o filósofo existencialista publicou dois ensaios sobre a sua obra, uma análise bem profunda.

A história do retrato no século XX tem com um dos destaques primordiais, suas séries de cabeças que generalizam os conceitos do homem e suas circunstâncias, uma incursão inusitada. Suas figuras esguias, provenientes de outras eras, suas pinturas, seus desenhos que são a essência de suas incursões, passando pelas gravuras, pelas fotos que retratam o seu labor no ateliê, suas amizades, suas paisagens, seus bustos que unem natureza e figura humana, revelam um mundo fascinante.

Peças escultóricas como “Homem caminhando”, “A mulher colher” ou “O Nariz” são alguns dos inúmeros ícones de sua obra. Vale notar que o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro possui uma extraordinária obra escultórica “Quatro Mulheres sobre base”, adquirida por Niomar Bittencourt por ocasião da I Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, um lance realmente visionário que enobreceu o acervo do belíssimo museu projetado pelo arquiteto franco-brasileiro Affonso Eduardo Reidy.


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José Henrique Fabre Rolim

Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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