Opinião

Volpi e Bruno Giorgi: dois percursos e uma grande amizade

A amizade sincera é uma dádiva, representa um vínculo afetivo que avança no tempo e permanece como referência para a o aprimoramento do relacionamento humano.

No campo das artes, muitas amizades surgem mas algumas são antológicas como aconteceu com dois artistas marcantes no cenário nacional, Alfredo Volpi e Bruno Giorgi, italianos nascidos na Toscana, uma região das mais deslumbrantes da face da terra, que se conheceram no Brasil, em 1936, por intermédio do escultor Figueira Júnior e acabaram frequentando o Palacete Santa Helena, em São Paulo, famoso atelier livre, onde diversos artistas, grande maioria imigrantes, realizavam suas obras.

Bruno Giorgi

A fraterna amizade se consolidou por mais de 5 décadas, os dois amigos tinham muita coisa em comum, trilhando caminhos marcantes na arte brasileira, duas linguagens diversas, mas com afinidades surpreendentes e reveladoras do fluxo da criatividade plena.

Alfredo Volpi

A primorosa exposição “Estética de uma amizade” no belíssimo espaço da Pinakotheke de São Paulo, reunindo 120 obras, grande parte inédita, como desenhos, pinturas, esculturas e maquetes pertencentes à Coleção Leontina e Bruno Giorgi além de outros colecionadores representa uma rara oportunidade para o visitante avaliar a magistral estética de dois mestres.

A presente mostra é o resultado de um grande esforço que se solidificou a partir da colaboração da Pinakotheke, da viúva de Bruno Giorgi, Leontina Ribeiro Giorgi, do Pedro Mastrobuono e Instituto Volpi de Arte Moderna.

Alfredo Volpi – bandeiras

O impressionante conjunto de pinturas de Volpi como as excepcionais esculturas, os instigantes desenhos e telas de Giorgi, se destacam pela perfeita sintonia com uma certa energia indelével, obras que floresceram da amizade de ambos, como as quatro mulheres de Giorgi pintadas por Volpi; a tela de Judite retratada pelo pintor, como as pinturas ofertadas à sua única aluna Eleonore Koch.

Por outro lado, chama a atenção as joias, verdadeiras esculturas de Giorgi, os nus femininos concebidos pelos dois mestres; o retrato de Giorgi concebido por Volpi e as cabeças de Volpi e Mario de Andrade esculpidas por Giorgi.

Alfredo Volpi – faixas e mastros

As maquetes das obras de Brasília são uma preciosidade, notadamente com os afrescos de Volpi e as esculturas de Bruno Giorgi que deram um toque nobre na arquitetura de Oscar Niemeyer.

Bruno Giorgi – O Meteoro

Paralelamente, acontece no Instituto Tomie Ohtake, a mostra “Oscar Niemeyer 1907-2012 / Territórios da Criação” com curadoria de Marcus Lontra e Max Perlingeiro, em que a intensa criatividade do grande arquiteto é apresentada de forma eficiente numa montagem impecável. A exposição realça aspectos marcantes de sua trajetória precisamente, o artista e o designer.

Alfredo Volpi – tempera

O visitante pode apreciar pinturas realizadas na década de 60, desenhos excepcionais, alguns arquitetônicos dos anos 90 com aquele traço ágil, pura poesia, além de mobiliários desenvolvidos por ele ao lado da filha Ana Maria. Um outro aspecto interessante foi sua atuação como designer gráfico, tendo criado a revista Módulo, uma das mais representativas da arquitetura e das artes, na década de 50, interrompida com a repressão e retomada depois de sua volta ao Brasil.

Bruni Giorgi- Busto de Mario de Andrade

Deve-se realçar que a arquitetura de Niemeyer dialoga com obras de grandes mestres como Alfredo Volpi, Bruno Giorgi, Candido Portinari, Tomie Ohtake, Athos Bulcão, Alfredo Ceschiatti entre tantos artistas que revolucionaram a cena cultural do país.

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José Henrique Fabre Rolim

Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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