A violência velada nas relações do dia-a-dia em 9 pinturas
Quem são as artistas?
Tatiana Blass – É artista plástica que faz pinturas, vídeos, esculturas e instalações. Começou a desenvolver seu trabalho em 1998, quando passou a participar regularmente de salões, mostras em ateliês, exposições coletivas e individuais no Brasil e no exterior
Regina Parra – Mestre em Teoria e Crítica da Arte pela Faculdade Santa Marcelina e bacharel em Artes Plásticas pela Faap. Nos últimos anos, realizou exposições individuais no Pivô (SP), Centro Cultural São Paulo (SP), Paço das Artes (SP), Fundação Joaquim Nabuco (PE), Galeria Leme (SP) e Galeria Effearte (Milão).
O que terá na mostra?
Pinturas, desenhos, vídeos e uma instalação.
Onde vai ser?
Galeria Millan (endereço abaixo).
É um bom programa?
Sim
Quando?
22 de julho a 20 de agosto de 2016
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Regina Parra
Em sua primeira exposição individual na Galeria Millan, “Por Que Tremes, Mulher?”, com curadoria de Moacir dos Anjos, a artista reúne nove pinturas, uma série de desenhos, instalações e um vídeo. Os novos trabalhos refletem uma espécie de “arqueologia da violência”. Não a brutalidade que ganha destaque da mídia diariamente, mas aquela que, muitas vezes, está por trás dela: a violência velada nas relações do dia-a-dia. A hostilidade invisível que funciona como uma ferramenta cotidiana para submeter o outro, especialmente quando esse outro está em uma posição mais frágil. E todo tipo de outro – mulher, imigrante, negro, índio – trava uma luta contra sua própria redução a estereótipos: a mulher domesticada, o imigrante servil, a “nega maluca”, o bom selvagem.
Na instalação sonora “Sim, Senhor”, por exemplo, todos os personagens repetem a mesma frase (“- Sim, senhor.”) como uma estratégia de sobrevivência. Ou, nas pinturas a óleo, são reduzidos a estátuas decorativas de fazendas escravagistas de São Paulo, eternamente servis e sorridentes. E abaixam a cabeça no conjunto de desenhos vermelhos de Parra. No olhar da artista, a estratégia de sobrevivência pode ser enxergada como um meio de resistência. As esculturas decorativas blackamoor retratadas em seus óleos sobre papel deixam de ser “enfeites exóticos” para revelar a brutalidade de sua origem. As figuras cabisbaixas representadas ali talvez estejam, enfim, levantando suas cabeças.
Nas pinturas da série que dá nome à mostra, “Por Que Tremes, Mulher?”, os versos do poema “Tragédia no Lar”, de Castro Alves, fazem as vezes de legendas em cenas de florestas primordiais. Nelas, a violência funciona como ponto de intersecção entre natureza e cultura. Essas mesmas paisagens são o habitat do pássaro Lipaugus vociferans, conhecido como Capitão-do-Mato. A alcunha vem de seu canto estridente, que, no passado, servia para denunciar o movimento de escravos em fuga. Essa espécie de “antifábula” ganha novo significado no grupo de pinturas “Aquele Que Grita” e também no vídeo “Capitão-do-Mato”, filmado na Amazônia tendo como personagem um exímio imitador de pássaros. E na instalação em neón, a frase “Manter-se Aterrorizada” é, ao mesmo tempo, o avesso e o espelho da sentença “Tornar-se Terrível”. Um dilema essencialmente contemporâneo, de um tempo em que a violência contra a mulher está em evidência, da reação feroz às ondas de imigração e do aumento da desigualdade. Um tempo onde o outro ainda é perseguido.
Tatiana Blass
Sua individual intitulada “A desprofissão”, ocupa o Anexo Millan e marca também o lançamento do primeiro livro a abarcar toda a trajetória da artista (“Tatiana Blass”, editora Automática).
O primeiro bloco reúne cerca de vinte pinturas inéditas, em pequenas dimensões, feitas em guache sobre algodão e sobre papel. A artista se inspirou em cenas de peças de teatro clássicas, nas quais os atores, ou personagens, são absorvidos pelo espaço ao redor, o que faz com que figura e ambiente tornem-se um só corpo pictórico. As cores intensas e opacas próprias da tinta guache, e as formas sem contornos determinados, características da pintura de Tatiana Blass, dão uma ambiguidade interessante às pinturas.
Junto a elas, Tatiana exibe vídeos inéditos da série Desprofissão. São três “vídeo-pinturas” nos uma relação cromática entre os elementos é estabelecida. Eles então são expostos como pinturas, em monitores ambíguos, emoldurados como se fossem quadros. Em todos os vídeos, um profissional realiza sua atividade porém alcançando um resultado oposto ao esperado. O lavador de carros torna-se um “deslavador”, ao lavar o automóvel com água suja de barro; a manicure vira uma “desmanicure”, que pinta toda a mão da cliente exceto suas unhas; e o pichador grafita por cima das pichações já existentes, usando um spray da mesma cor da parede, assim “despichando-as”.
A artista exibe também, e pela primeira vez, a videoinstalação “Bocejo”, originalmente realizada para um projeto solo na feira ARCOMadrid deste ano. São onze vídeos sincronizados em diferentes equipamentos audiovisuais, produzidos de acordo com seus formatos e características específicas. Cada um deles exibe uma cena com pessoas que bocejam e então desencadeiam bocejos nos demais personagens. Em seguida, as telas “dormem” e ficam escuras, em modo stand-by, para depois “acordarem” e voltar a exibir os vídeos em looping, criando assim um círculo de bocejos bastante instigante – e possivelmente contaminador para quem os assiste.
Além disso, Tatiana expõe vídeos anteriores pouco exibidos ao longo de sua carreira. São eles “Cisma” (2014), “Encrenca_Trøbbel” (2014), “Electrical Room” (2013) e “Hard Water” (2012).
SERVIÇO
Abertura das individuais de Regina Parra e Tatiana Blass: 21 de julho, quinta-feira, das 19h às 22h
Período expositivo: 22 de julho a 20 de agosto
Local: Galeria Millan
Lançamento do livro “Tatiana Blass” e conversa com Moacir dos Anjos e José Augusto Ribeiro: 06 de agosto, sábado, às 11h30
Horário de funcionamento: Terça a sexta-feira, das 10h às 19h; sábado, das 11h às 18h
Tel. 55 11 3031 6007
Endereço: Rua Fradique Coutinho, 1416 Vila Madalena – São Paulo, SP
www.galeriamillan.com.br
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