Candido Portinari nasceu no dia 30 de dezembro de 1903, numa fazenda de café em Brodoswki, no Estado de São Paulo. Filho de imigrantes italianos e de origem humilde, manifestou uma vocação artística desde criança. Aos 15 anos, foi para o Rio de Janeiro em busca de um aprendizado mais sistemático em pintura, matriculando-se na Escola Nacional de Belas Artes.
Companheiro de poetas, escritores, jornalistas, diplomatas, Portinari participou da elite intelectual brasileira da década de 30, uma época em que se verificava uma notável mudança da atitude estética e na cultura do país, demonstrada na Semana de Arte Moderna de 1922.
Seus quadros se entrelaçam com questões relacionadas ao Brasil em diversos temas:
Na década de 1950, Portinari passa a ter problemas de saúde devido à intoxicação de chumbo que havia em suas obras e morre aos 58 anos, em 6 de Fevereiro de 1962, momento em que preparava uma grande exposição de cerca de 200 obras a convite da Prefeitura de Milão (Itália).
Em 1928, conquistou o Prêmio de “Viagem ao Estrangeiro” da Exposição Geral de Belas-Artes, de tradição acadêmica. Foi para Paris (França), onde permaneceu durante todo o ano de 1930. Voltou ao Brasil em 1931 e retratou em suas telas o povo brasileiro, superando aos poucos sua formação acadêmica e fundindo a ciência antiga da pintura a uma personalidade experimentalista e antiacadêmica moderna.
Em 1935, obteve seu primeiro reconhecimento no exterior, a segunda menção honrosa na exposição internacional do Carnegie Institute de Pittsburgh, Estados Unidos, com uma tela de grandes proporções, intitulada “Café”, retratando uma cena da colheita típica de sua região de origem.
A inclinação muralista de Portinari revelou-se com vigor nos painéis executados no Monumento Rodoviário da estrada Rio de Janeiro – São Paulo, em 1936, e nos afrescos do novo edifício do Ministério da Educação e Saúde, realizados entre 1936 e 1944. Estes trabalhos, como conjunto e concepção artística, representam um marco na evolução da arte de Portinari, afirmando a opção pela temática social, que foi o fio condutor de toda a sua obra a partir de então.
No final da década de 30, a projeção de Candido Portinari nos Estados Unidos foi consolidada. Em 1939, ele executa três grandes painéis para o pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York. Neste mesmo ano o Museu de Arte Moderna de Nova York adquire sua tela “O Morro”.
Em 1940, participou de uma mostra de arte latino-americana no Riverside Museum de Nova York e expôs individualmente no Instituto de Artes de Detroit e no Museu de Arte Moderna de Nova York, com grande sucesso de crítica, venda e público. Em dezembro do mesmo ano, a Universidade de Chicago publicou o primeiro livro sobre o pintor, “Portinari, His Life and Art”, com introdução do artista Rockwell Kent e inúmeras reproduções de suas obras.
Em 1941, Portinari executou quatro grandes murais na Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso em Washington, com temas referentes à história latino-americana. De volta ao Brasil, realizou, em 1943, oito painéis conhecidos como “Série Bíblica”, fortemente influenciado pela visão picassiana de “Guernica” e sob o impacto da 2ª Guerra Mundial.
Em 1944, a convite do arquiteto Oscar Niemeyer, iniciou as obras de decoração do conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte (MG), destacando-se o mural “São Francisco” e a “Via Sacra”, na Igreja da Pampulha.
A escalada do nazi-fascismo e os horrores da guerra reforçaram o caráter social e trágico de sua obra, levando ele a produzir as séries “Retirantes” e “Meninos de Brodowski”, entre 1944 e 1946, e a se engajar na militância política, filiando-se ao Partido Comunista Brasileiro e candidatando-se a deputado, em 1945, e a senador, em 1947. Ainda em 1946, Portinari voltou a Paris para realizar sua primeira exposição em solo europeu, na Galerie Charpentier. A exposição teve grande repercussão, tendo sido Portinari agraciado, pelo governo francês, com a Légion d’Honneur.
Em 1947 expôs no salão Peuser, de Buenos Aires (Argentina) e nos salões da Comissão Nacional de Belas Artes, de Montevidéu (Uruguai), recebendo grandes homenagens por parte de artistas, intelectuais e autoridades dos dois países.
O final da década de 40 assinalou o início da exploração dos temas históricos por meio da afirmação do muralismo. Em 1948, Portinari exilou-se no Uruguai, por motivos políticos, onde pintou o painel “A Primeira Missa no Brasil”, encomendado pelo banco Boavista do Brasil.
Em 1949, executou o grande painel “Tiradentes”, narrando episódios do julgamento e execução do herói brasileiro que lutou contra o domínio colonial português. Por este trabalho, Portinari recebeu, em 1950, a medalha de ouro concedida pelo Júri do Prêmio Internacional da Paz, reunido em Varsóvia (Polônia).
Em 1952, atendendo a encomenda do Banco da Bahia, realizou outro painel com temática histórica, “A Chegada da Família Real Portuguesa à Bahia” e iniciou os estudos para os painéis “Guerra e Paz”, oferecidos pelo governo brasileiro à nova sede da Organização das Nações Unidas. Concluídos em 1956, os painéis, medindo cerca de 14m x10m cada – os maiores pintados por Portinari.
Em 1955, recebeu a medalha de ouro concedida pelo Internacional Fine-Arts Council de Nova York como o melhor pintor do ano. Em 1956, Portinari viajou a Israel, a convite do governo daquele país, expondo em vários museus e executando desenhos inspirados no recém-criado Estado Israelense e expostos posteriormente em Bolonha (Itália), Lima (Peru), Buenos Aires (Argentina) e Rio de Janeiro. No mesmo ano, Portinari recebeu o Prêmio Guggenheim do Brasil e, em 1957, a Menção Honrosa no Concurso Internacional de Aquarela do Hallmark Art Award, de Nova York. No final da década de 50, realizou diversas exposições internacionais.
Expôs em Paris e Munique (Alemanha) em 1957. Foi o único artista brasileiro a participar da exposição 50 Anos de Arte Moderna, no Palais des Beaux Arts, em Bruxelas (Bélgica), em 1958. Como convidado de honra, expôs 39 obras em sala especial na I Bienal de Artes Plásticas da Cidade do México, em 1958. Neste mesmo ano, expôs em Buenos Aires, e em 1959 na Galeria Wildenstein de Nova York e, juntamente com outros grandes artistas americanos como Tamayo, Cuevas, Matta, Orozco, Rivera. Participou da exposição Coleção de Arte Interamericana, do Museo de Bellas Artes de Caracas (Venezuela).
Criança Morta (1944) 182x190x3.5 cm.
Acervo do MASP
Lavrador de café (1934) 100x81cm
Acervo do MASP
Retirantes (1944) 190x180x2.5 cm
Acervo do MASP
Enterro na rede (1944) 180.5×220.7×2.5 cm
Acervo do MASP
O Mestiço (1934) 81 cm x 65 cm
Acervo Pinacoteca do Estado
1. O pintor é o segundo de doze irmãos. Seu apelido era Candinho.
2. O artista só cursou o primário. Certa vez, quando ainda estava na escola, Portinari desenhou um leão em sala de aula. A obra foi tão comentada entre professores e alunos que ele foi obrigado a desenhar a capa de todas as provas que seriam expostas no final de ano.
3. Aos 9 anos pintou o teto da igreja de sua cidade.
4. O nome mais popular da arte brasileira criou cerca de 4.500 obras em 40 anos de trabalho.
5. O artista costumava aumentar o tamanho do corpo de seus personagens para valorizar o trabalhador brasileiro.
6. Pintou temas de denúncia social, mas também se dedicou a temas líricos. Só deixou de pintar por causa da intoxicação causada pelas tintas.
7. Seus painéis para a igreja da Pampulha criaram uma batalha político-religiosa centrada no São Francisco pintado por Portinari, considerado extravagante e anti-religioso. A igreja foi inaugurada em 1945, mas ficou fechada durante 14 anos.
8. Em 1956, Cândido Portinari pintou os murais Guerra e Paz para a sede da ONU, em Nova York.
9. Ele foi o único artista brasileiro a participar da exposição 50 Anos de Arte Moderna, no Palais des Beaux Arts, em Bruxelas, em 1958.
10. Entre os trabalhos de Portinari no exterior estão os três grandes painéis para a Feira Mundial de Nova York (1939) e os quatro painéis para a Biblioteca do Congresso (1942), em Washington. Ele também realizou uma exposição individual no MoMA, em Nova York (EUA), uma na Galerie Charpentier, em Paris (França), e uma mostra itinerante em Israel.
Em 2022, a exposição imersiva “Portinari para Todos”, no MIS Experience, foi a mais completa mostra já realizada sobre o artista. A exposição, que contou com diversos recursos audiovisuais para envolver os visitantes, foi um grande sucesso de público e contou com mais de 230 mil visitantes. A mostra Portinari Para Todos pode ser vista em formato digital.
Além disso, o Museu Casa de Portinari, em São Paulo, também ganhou, em 2022, uma galeria multimídia. Com acesso gratuito, a iniciativa cria um novo circuito dentro museu que, além de projetar mais de 5.300 obras catalogadas, ainda vai trazer informações sobre as diversas fases da história do artista
Após a morte de Candido Portinari, o jornal O Globo publicou:
“Portinari, o pintor. Um famoso desconhecido. Mais de 95% da obra do maior pintor brasileiro contemporâneo hoje é inacessível ao público, guardada em coleções particulares. O que foi feito do trabalho de um homem que, durante toda a sua vida, exprimiu emocionadamente a alma, o povo e a vida brasileira?”
Em 1979 nasce o Projeto. Seu diretor, João Candido, dirigindo-se ao pai em carta-prefácio póstuma, declara:
[…] é como brasileiro que me sinto no dever de trabalhar para que todos possamos nos reencontrar com tua obra e, através dela, com nós mesmos.
O projeto tem, além disso, como objetivos:
Em 21 anos, o Projeto levantou milhares de obras (pinturas, desenhos, gravuras) atribuídas ao pintor; mais de 25 mil documentos sobre sua vida e sua época; registrou 72 depoimentos totalizando mais de 130 horas gravadas e arquivou mais de seis mil cartas.
Você pode conhecer os detalhes do projeto aqui:
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