Por que as pessoas vandalizam obras de arte?
ataque à Mona Lisa aquece debate sobre depreciação de patrimônio cultural

Em maio de 2022, as redes sociais e os noticiários da TV exibiram cenas da Mona Lisa sendo atacada com uma torta arremessada por um visitante no museu do Louvre. De acordo com testemunhas, o responsável pela cena justificou seu ato como um ativismo em prol das mudanças climáticas que o planeta vem sofrendo.

Essa é a quinta vez que a Mona Lisa é atacada. As motivações dos agressores anteriores variam e a maioria delas é pessoal. O quadro não foi danificado pois é protegido por uma tela de vidro à prova de balas, um detalhe que – obviamente – o meliante do caso mais recente tinha conhecimento. Ou seja, mesmo sabendo que sua torta não traria danos reais ao quadro, ainda assim escolheu a Mona Lisa para protagonizar sua manifestação.

Levando em consideração que Mona Lisa, Museu do Louvre, Leonardo DaVinci e tortas aparentemente não estabelecem conexão direta com as mudanças climáticas, nos resta questionar: por que as pessoas vandalizam obras de arte?
Patrimônio cultural
As obras de arte, assim como todas as linguagens artísticas, prédios e monumentos históricos, sítios arqueológicos, entre outras manifestações, representam nossa história e identidade enquanto sociedade, bem como os nossos laços com o passado, presente e futuro. São verdadeiras heranças culturais que demonstram a identidade da humanidade.
Por isso, tanto a conservação quanto a destruição de obras de arte e monumentos históricos podem ser consideradas uma veneração ou uma afronta à memória e à sociedade.
Vandalismo
O nome “vandalismo” deriva do povo vândalo, um dos povos germânicos cujas invasões e ataques ao Império Romano contribuíram para sua queda. Historicamente, o vandalismo foi definido pelo pintor Gustave Courbet como “a destruição de monumentos que simbolizam guerra e conquista”.
Hoje em dia, essa palavra é empregada com tom pejorativo contra grupos que atacam monumentos, prédios e instituições urbanas públicas e privadas, mas originalmente ativistas usavam a tática de destruição de patrimônio cultural como forma de protestos políticos e sociais.
Obras em Destaque
O cenário
O local, o momento e as circunstâncias onde essas manifestações acontecem é relevante, pois são escolhas feitas para legitimar, fortalecer e amplificar a mensagem.
O Louvre é um monumento histórico, além de ser o maior e o mais visitado museu do mundo, com um acervo de aproximadamente 38 mil objetos.

Considerada patrimônio cultural da humanidade, a Mona Lisa, por sua vez, ostenta o título de “obra de arte mais famosa do mundo” por um conjunto de fatores, incluindo seu autor – o italiano Leonardo DaVinci, além do episódio de seu roubo em 1911 e sua sátira feita por Duchamp que a fez cair na cultura popular de vez. A sala onde está exposta é a mais visitada de todo o Louvre.
Motivação
“Artistas pensam sobre a Terra, é por isso que eu fiz isso. Pense no planeta!” é o que gritava o mais recente agressor da Mona Lisa, enquanto era carregado por seguranças.
Não há dúvidas de que as preocupações com o futuro do planeta e das próximas gerações são absolutamente genuínas e comovem a maioria de nós. Inclusive existem diversos(as) artistas dedicando toda a sua criatividade e inovação para criar obras, performances e instalações espetaculares, capazes de despertar reflexões profundas sobre o tema na sociedade. Será que uma torta sobre um vidro nos faz refletir sobre aquecimento global?
Vandalização de obras de arte e monumentos históricos
O ataque à Mona Lisa está longe de ser um caso isolado e soma-se a um amplo e complexo debate que se estende aos questionamentos sobre monumentos históricos que vêm surgindo diante de uma série de protestos populares recentes no Brasil e no mundo.
O impulso que leva uma pessoa ou um grupo a depreciar um patrimônio cultural é um tema que requer estudos profundos que este artigo não tem intenção de desenvolver, mas é necessário analisar as ocorrências com uma perspectiva neutra, levando em consideração que esse tipo de manifestação pode ser vista como forma concreta de expressão.