Masaccio e a Capela Brancacci
O artista voltou-se para uma pintura mais natural e realista, valendo-se, inclusive, da perspectiva, uma técnica inovadora da representação pictórica, no período
Tommaso di ser Giovanni di Mone, conhecido por MASACCIO (1401 – 1428/9) é um dos primeiros mestres do Renascimento italiano, no início do século XV.
Em Florença, Masaccio entrou em contato com a arte de GIOTTO di Bondone (1265/66 – 1337), Leon Battista ALBERTI (1404 – 1472), Filippo BRUNELESCHI (1377 – 1446) e DONATELLO (1386 – 1466).
Afastando-se das tradições bizantinas e da pintura ornamentada do estilo gótico internacional de Gentile da FABRIANO (ca. 1370 – 1427), Masaccio voltou-se para uma pintura mais natural e realista, valendo-se, inclusive, da perspectiva, uma técnica inovadora da representação pictórica, no período.
Segundo Gombrich (2000), o emprego de novos artifícios não foi um fim para os mestres da Arte Renascentista, mas tinha o objetivo de acercar dos nossos espíritos o significado dos temas.
Uma de suas obras mais antigas é um fresco, datado de 1425 em uma das antigas paredes da Santa Maria Novella, em Florença. Na pintura magestosa, Masaccio representa a Santissíma Trindade, Nossa Senhora, São João Evangelista e os donatários nas laterais. Contudo, o “maior conjunto de obras de Masaccio que chegou até nós é constituído pelos frescos da Capela Brancacci em Sta. Maria del Carmine.” (JANSON, 1992, p. 413)
Obras em Destaque
A fundação da Igreja de Nossa Senhora do Carmelo data de 1268, mas sua construção prolongou-se até o século XV.
Em 1386, Pietro Brancacci encomendou a construção da capela e por volta de 1423/1424, Felice Brancacci contratou o pintor MASOLINO da Panicale (San Giovanni Valdarno, Arezzo, Itália, 1383 — Florença, 1447) com seu assistente MASACCIO (San Giovanni Valdarno, Arezzo, Itália, 1401 — Roma,1428/9) para executaram o ciclo de afrescos com passagens da vida de São Pedro.
Mais ou menos um ano depois, Masolino partiu para a Hungria e Masaccio assumiu inteiramente a responsabilidade até 1427, quando foi chamado em Roma e morreu aos 27 anos.
Os frescos: A Expulsão do Jardim do Éden, O Dinheiro dos Tributos, O Batismo dos Neófitos, São Pedro cura os doentes com sua sombra e Distribuição das Esmolas com a Morte de Ananias são atribuídos à Masaccio.
A perspectiva e o naturalismo das figuras empregados por Masaccio estabeleceu novos parâmetros para os afrescos do período e ajudou a desenvolver o estilo Renascentista italiano, depois de GIOTTO di Bondone (1266 – 1337).
Entre 1435 e 1458, a família Brancacci foi exilada pela Família Médici e a pintura da capela ficou parada. Não se tem certeza se alguns afrescos ficaram incompletos ou se alguns elementos, como brasões da família, foram destruídos.
Com o retorno dos Brancacci, o pintor FILIPPINO LIPPI (1457 – 1504), filho de Fra Filippo LIPPI(c. 1406 – 1469) foi chamado para terminar alguns dos frescos na capela, entre 1481 e 1485.
No século XVII, os novos donos redecoraram a capela no estilo Barroco, mas os afrescos do século XV foram salvos da destruição quando souberam da presença de grandes artistas como MICHELANGELO Buonarroti (1475 – 1564) e RAFAEL de Sanzio (1483 – 1520), que ali estiveram para observar o estilo da pintura de Masaccio.
No século XVIII, a capela escapou de ser destruída por um grande incêndio.
Adão e Eva são representados nus, com um extraordinário realismo. Na pintura de Masaccio, a antiga sobriedade do gótico, dá lugar a personagens desesperados, acompanhados pelo anjo Gabriel indicando a saída do paraíso. Adão cobre o rosto com as mãos, envergonhado. Eva cobre o corpo com vergonha e grita desesperada. Os cabelos são representados sujos e grudados na cabeça. As sombras são projetadas no chão. A dor de Adão transparece no ventre contraído. Os personagens são reais. “Os desolados Adão e Eva” são “exemplares impressionantes da beleza e do poder das formas humanas nuas.” (JANSON, 1992, p. 415)
Junto à narrativa contínua, Masaccio emprega cores e tons diferentes para definir os três planos e sutilmente usa a perspectiva atmosférica ao fundo na paisagem.
A composição encontra-se dividida em três grupos: à esquerda Pedro retira a moeda da boca do peixe, ao centro Jesus se dirige à Pedro e à direita Pedro entrega os tributos ao coletor.
O ponto-de-fuga único direciona o olhar do espectador para a figura de Cristo, que é representado na mesma altura dos seus discípulos. Até então a pintura do tardo gótico e a antiga bizantina persistia na representação do Cristo sempre maior em relação ao restante das figuras.
São Pedro caminha pelas ruas ensolaradas da cidade italiana ao lado de São João Evangelista.
À medida que passa ao lado dos enfermos, São Pedro cura os doentes com sua sombra.
No fresco Batismo dos Neófitos, executado por volta de 1425-1426, Pedro prepara-se para pregar, exortando o povo a ser batizado em nome de Jesus Cristo. Na cena, Masaccio representa os jovens prontos para serem batizados. À direita, já desnudo, um deles treme de frio, com os braços cruzados.
O mais próximo encontra-se ajoelhado à beira do rio. A água translúcida cobre seus joelhos. Pedro gira a tigela em direção ao observador, enquanto a água escorre pelos cabelos e corpo do jovem.
Em Morte de Ananias, São Pedro distribui esmola aos necessitados em um dia de inverno com o céu escuro. No chão, diante de Pedro, encontra-se o corpo de Ananias, que morreu como castigo por ter guardado para si uma parte dos lucros da venda de sua propriedade.
Tal como seus contemporâneos flamengos, ainda no século XV, Masaccio “estava ciente do papel da luz natural como fator pictórico”. No entanto, ao morrer tão jovem, faltaram-lhe os meios técnicos “para o seu pleno desenvolvimento.” (JANSON, 1992, p. 415)
Veja mais sobre o tema
Referências
CAPELA BRANCACCI, Florença, Itália. Disponível em http://www.museumsinflorence.com/musei/Brancacci_chapel.html Acesso em: 21 jul. 2019.
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: LTC, 2000. 714 p.
JANSON H. W. História da Arte. Tradução J.A. Ferreira de Almeida; Maria Manuela Rocheta Santos. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992. 823 p.
MARTINI, Fátima R. S. A Pintura Renascentista e Maneirista nos Museus. In Curso de Extensão/UNIMES virtual. Santos/SP: UNIMES, 2016. 57 p.
NATIONAL GALLERY OF ART,Washington, EUA. Andrew W. Mellon Collection. 1937.1.7. Disponível em: https://www.nga.gov/collection/art-object-page.9.html Acesso em: 21 jul. 2019.
belíssimo material. Parabéns à autora!
Adorei!
Mto bom!