O cinema de John Akomfrah no CCBB/SP

Por Paulo Varella - novembro 13, 2017
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De 15 de novembro a 4 de dezembro, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo apresenta retrospectiva inédita com os filmes de John Akomfrah, cineasta pioneiro na abordagem de vanguarda sobre a diáspora africana. A obra de Akomfrah é reconhecida por atentar à luta contra a opressão racial e denunciar as ramificações contemporâneas do colonialismo. A mostra incentiva o debate durante o mês da Consciência Negra e traz ao país, pela primeira vez, o renomado historiador da arte Kobena Mercer (Universidade de Yale). Especialista na arte da diáspora africana, ele apresenta uma aula magna sobre a obra de Akomfrahem 27 de novembro, às 19h, no CCBB.
A retrospectiva O cinema de John Akomfrah – Espectros da diáspora reúne 16 obras do cineasta, a maioria inédita no Brasil, entre filmes de ficção, documentários e videoinstalações. Partindo da cinematografia do realizador ganês-britânico, a mostra apresenta um amplo painel sobre a dispersão das culturas de matriz africana no ocidente, traçando um percurso que cobre desde as raízes da escravidão, em trabalhos como Tropykos (2015), a obras de ficção científica de inspiração afro-futurista, como O último anjo da história (1995).
Nascido em Gana em 1957, Akomfrah emigrou para a Inglaterra ainda na infância. “As agruras comuns à experiência migratória, tais como a nostalgia da terra natal e as tensões inerentes à condição de ser negro na Grã-Bretanha do pós-guerra, fortemente marcada pelo racismo, teriam impacto profundo na vida e na produção de Akomfrah”, detalha Rodrigo Sombra, que assina a curadoria da mostra em parceria com Lucas Murari.
Durante a década de 1980, Akomfrah participou intensamente do movimento de cineclubes e oficinas de cinema que emergia nos bairros de imigrantes da Inglaterra. Neste período, fundou o Black Audio Film Collective, coletivo de artistas cuja atuação seria decisiva para dar visibilidade à questão diaspórica no interior da cultura inglesa.
“Ao ocupar salas de cinema, galerias e a televisão, o Black Audio dava vazão a um projeto de radicalidade estética e política realizado de uma perspectiva negra até então inédito no cinema britânico”, explica o curador Lucas Murari. É o caso de As Canções de Handsworth (1986), primeiro longa dirigido por Akomfrah. Eleito pela revista Sight and Sound um dos 50 melhores documentários da história, o filme se apropria e imagens de arquivo para investigar como questões de raça e imigração eram representadas na mídia hegemônica.
Nas décadas seguintes, Akomfrah aprofundaria as experimentações com imagens de arquivo, traço definidor de sua estética. Neste sentido, seus filmes seriam celebrados pelo modo como as imagens do passado dialogam com citações literárias ou relatos ficcionais, nos quais o diretor emprega uma linguagem fortemente inspirada na história da arte. Seus filmes são celebrados pelo forte apelo literário. Em longas como As Nove Musas (2011), por exemplo, a mitologia grega e as migrações de caribenhos à Grã-Bretanha do segundo pós-guerra coabitam o mesmo plano. Neste e em outros trabalhos, o artista faz um cinema permeado de referências a escritores cuja sensibilidade dialoga com seus filmes. Segundo Rodrigo Sombra, “em seus filmes, Akomfrah cita Virginia Woolf, Joyce, Emily Dickinson, Shakespeare, Milton, invoca todos esses autores britânicos para afirmar a sua própria britanidade. Sente-se à vontade tanto para convocar MalcolmX quanto Samuel Beckett na tentativa de formular perguntas inquietantes a respeito da condição diaspórica, do lugar do imigrante em nosso tempo”.
A questão da diáspora africana na obra de Akomfrah ganha ressonância ainda nos diálogos imaginários mobilizados por ele com figuras seminais da cultura negra. O artista dedicou filmes a personagens históricos na luta política antirracista, como MalcolmX, Martin Luther King e Stuart Hall. Longe de serem documentários convencionais, cada um desses filmes – todos eles incluídos na retrospectiva – tomam o relato biográfico como premissa para um salto na experimentaçãoçãca, do lugar do imigrante em nosso tempoentaMuses, fortemente inspirado em A Odiss habita o presente. Nos filmes de Akomfrah, formal, na busca por uma linguagem própria apta a abordar as tensões inerentes à subjetividade diaspórica.
Além dos filmes de Akomfrah, serão exibidos ainda dois filmes de ReeceAuguiste, um dos mais proeminentes artistas do Black AudioFilmCollective. A retrospectiva inclui também uma sessão especial do filme Borderline (1930), de Kenneth Macpherson. Clássico do cinema silencioso de vanguarda do Reino Unido, o filme parte de um triângulo amoroso interracial para fazer considerações sobre relações interraciais, preconceito, tratamento de classe, questões de gênero e sexualidade.
DEBATE – Em 23 de novembro, o CCBB promove também um debate sobre a mostra, aberta ao público, com mediação de Rodrigo Sombra e participações de Luiz Carlos dos Santos (jornalista e sociólogo) e Heitor Augusto (crítico de cinema). O debate ocorrerá às 19h, no CCBB, e será acompanhada por tradução em LIBRAS. Também será promovida aula magna com o professor Kobena Mercer (Yale University), no dia 27/11, às 19h. Pupilo de Stuart Hall, de quem editou a mais recente coleção publicada nos EUA, KobenaMercer é um dos mais renomados historiadores da arte dedicados às práticas artísticas da diáspora africana nos EUA e no Reino Unido. Ele virá ao Brasil pela primeira vez para uma aula magna sobre o legado de John Akomfrah.
Durante a retrospectiva, será lançado livro-catálogo com informações sobre a retrospectiva, textos e entrevistas de Akomfrah inéditos no País. A publicação contará com artigos dedicados a Akomfrah escritos por ensaístas, críticos e curadores estrangeiros publicados no Brasil pela primeira vez, incluindo nomes como o próprio KobenaMercer, KodwoEshun e OkwuiEnwezor, curador da Bienal de Veneza de 2015. Todo o material ficará disponível no site mostraakomfra.com.br

“John Akomfrah é amplamente reconhecido como um dos mais abrangentes e intelectualmente estimulantes cineastas britânicos” (The Guardian)

“Poucos artistas trabalhando hoje no mundo compartilham a profundidade de John Akomfrah na compreensão da cultura diaspórica africana, em particular em seus desenvolvimentos complexos com o curso instável da política global, a experiência pós-colonial e as estruturas tentadoras da mídia popular” (revista Artforum)

“Akomfrah é considerado um dos principais arquitetos do cinema britânico moderno negro após ter fundado o Black AudioFilmCollective, um coletivo de artistas mobilizado em legitimar as vozes negras no início dos anos 1980” (BBC)

Serviço

O CINEMA DE JOHN AKOMFRAH
De 15/11 a 4/12

CCBB SÃO PAULO

Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Rua Álvares Penteado, 112 – Centro. São Paulo-SP
Acesso ao calçadão pelas estações Sé e São Bento do Metrô
(11) 3113-3651/3652 | Quarta a segunda, das 9h às 21h

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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