Saiba como é feito o metacrilato
Veja a entrevista exclusiva do ArteRef com Paulo Varella, expert no assunto
Atualmente muitas pessoas têm buscado outras formas de acabamento na impressão de fotografias que fujam dos formatos tradicionais. Uma opção que tem sido muito procurada é o acabamento em metacrilato. Nossa equipe preparou uma matéria exclusiva sobre isso, desde seu processo, até quem anda produzindo e oferecendo no Brasil.
Processo de Metacrilato
Nos últimos anos estamos percebendo um aumento na utilização de uma tecnologia de preservação, finalização e acabamento de imagens, chamada de Metacrilato.
Elaboramos este post para informar você, artista, colecionador, amante ou curioso, sobre essa (não tão nova) novidade, como é seu processo e quem anda oferecendo esse produto aqui no Brasil e no mundo.
O nome metacrilato que o mercado das artes usa tem duas possíveis origens. A primeira vem do monômero do acrílico que é chamado de metacrilato. A outra possível origem se dá pelo fato de ser um processo em que uma imagem é embutida entre duas chapas de acrílico, e, portanto, Metacrilato.
De qualquer forma, o metacrilato nada mais é do que o processo onde uma imagem é embutida entre duas placas de acrílico, um termoplástico transparente usado frequentemente como uma alternativa leve e resistente à quebras quando comparado ao vidro, através do uso de um filme adesivo de poliéster ou polímero elástico (material que varia conforme o produtor), que a fixa entre essas duas placas.
Obras em Destaque
Esse processo dispensa moldura, levando somente um perfil na parte traseira, estando assim pronto para pendurar na parede.
A diferenciada refração e penetração da luz do acrílico somada à sua resistência aos raios UV, dão um resultado quase tridimensional às fotografias: essas ganham profundidade, um aspecto líquido, onde permite que as cores fiquem mais vibrantes, além de serem isoladas da umidade e dos agentes oxidantes, dois conhecidos fatores de risco na longevidade de obras de arte.
O processo de produção do metacrilato utilizando polímeros elásticos foi patenteado pelo suíço Heinz Sovilla-Brulhart em 1969, e desde então vem sido guardado a sete chaves pela família do cientista.
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Com o tempo, novos processos foram desenvolvidos e novos polímeros criados. Muitas empresas desenvolveram filmes adesivos de poliéster com qualidade óptica para utilização em “backlight” enquanto outras empresas aprimoraram o sistema de polimerização neutra para a fixação da imagem ao acrílico para utilização em “fine arts”.
Todas estas técnicas vêm lentamente ganhando espaço no circuito de “fine art” e na prestação de serviços personalizados de impressão. Este acabamento é uma alternativa às clássicas molduras de obras de arte, pois traz um ar mais contemporâneo e ao mesmo tempo simples à fotografia.
No exterior, diversas galerias têm dado preferência para esse processo e aparentemente, o metacrilato é a “menina dos olhos” das galerias de arte contemporânea.
A grande dúvida de todos é sobre quanto tempo realmente um metacrilato pode durar. Fomos atrás de pesquisas feitas sobre o processo de produção para desvendar mais sobre o assunto e descobrimos que existem vários tipos de metacriltatos sendo oferecidos no mercado.
Filme óptico adesivo
O método mais comum é o que utiliza um filme adesivo à base de poliéster. Este filme, em muitos casos já vem com uma camada protetora dos raios UV e garante que a imagem não sofra degradação através da incidência da luz.
Um fato a ser considerado é que o filme adesivo, com o tempo e a ação da variação de temperatura, sofre um processo de delaminação. Um quadro produzido utilizando este processo termina apresentando bolhas entre 1 a 10 anos após sua produção.
Polimerização frontal
Este é o mesmo sistema que nos anos 60 foi patenteado pelo suíço Heins Sovilla-Brulhart.
A imagem é colada no acrílico utilizando um polímero elástico. Este processo, ao contrário do filme adesivo, é mais demorado. O polímero demora 72 horas para ter uma cura total, o que retarda bastante o tempo de produção de uma obra.
O grande segredo do processo não está no polímero, mas no catalisador utilizado para criar uma adesão entre este e o acrílico. Esse processo foi mantido em segredo até 1995 quando a patente de Sovilla caiu e mais pessoas tiveram acesso à formulação do catalisador.
Desde então, polímeros mais eficientes surgiram e a tecnologia da produção do metacrilato melhorou.
São poucas as empresas que fazem este processo que, por ser difícil, é feito somente na parte da frente da imagem, para depois usar um adesivo na parte de trás para a colocação da outra chapa de acrílico, Poliestireno ou ACM.
Existem críticos a este processo, pois o adesivo usado no verso pode, com o tempo, alterar a cor da imagem em função do caráter não neutro da sua cola.
Polimerização total
Este é o processo mais elaborado de todos, pois usa o mesmo polímero neutro para colar a frente e o verso da imagem. O tempo de produção é lento, mas garante com que a imagem fique preservada em um ambiente inerte de ambos os lados. São pouquíssimas empresas que produzem este tipo de metacrilato no mundo. Uma delas está no Brasil, a Photoarts.
Conversamos com um dos experts no assunto, Paulo Varella, fundador da www.photoarts.com.br e do www.instaarts.com , que compartilhou seu conhecimento e experiência no assunto.
Arteref – Como você resolveu começar com produção de Metacrilato?
Paulo Varella – Tudo começou com uma necessidade de montar uma exposição de fotografias. Fui atrás dos fornecedores deste produto aqui no Brasil que pudessem me atender.
Fiz um teste e mandei uma obra de arte para cada um deles para poder ver a qualidade do produto final. Descobri que o principal desses fornecedores usava filmes de poliéster enquanto o outro usava polímero somente na parte da frente.
O preço do fornecedor que usava polímeros era um absurdo enquanto o outro não possuía a qualidade que eu precisava.
Como tenho uma formação em química e arte, resolvi encarar o desafio, pesquisar e investir no maquinário para produzir as peças para as minhas exposições. Tanto nas produções de metacrilato quanto nas de peças de fine art (molduras, impressão e outras mídias).
Neste processo, fiz amizade com um restaurador alemão que fez a sua tese de mestrado sobre a produção do metacrilato. Com a ajuda dele e de uma empresa americana produtora de polímeros, consegui reproduzir e melhorar o processo de produção do metacrilato patenteado por Sovilla nos anos 60.
Arteref – Mas quanto tempo realmente dura um metacrilato?
Paulo Varella – Vamos considerar o metacrilato com polimerização total, isto é, na frente e atrás.
Apesar de ninguém ter visto ainda um metacrilato de 100 anos (já que nem a invenção do acrílico tem esta idade), existem processos de envelhecimento acelerado em autoclave.
Foi aí que este amigo alemão me ajudou. Ele fez uma tese sobre a longevidade do metacrilato. Usou mais de 100 amostras com todas as possíveis variações de papel, polímero, dupla-face e catalisador.
O metacrilato produzido da forma correta (polimerização total) teve uma vida projetada de 90 a 110 anos.
No tempo em que a tese foi feita, ele utilizou C-prints (papel fotográfico com revelação química). Hoje, com as novas tintas a base de plástico e papéis neutros, esta durabilidade aumentou.
O metacrilato, certamente é um produto que vai durar pelo menos 2 gerações inteiras.
Arteref – Por que é tão caro o metacrilato?
Eu já devo ter produzido umas 8000 peças desde que comecei a trabalhar com metacrilato.
Sempre na hora de checarmos o produto após a primeira polimerização, o clima na sala de produção fica tenso e eu fico com um frio na barriga.
Às vezes, por conta de um ponto de poeira, temos que descartar um quadro de 2 metros quadrados.
Não existe como aproveitarmos as chapas já polimerizadas. Uma vez feita a colagem, não há retorno, fica impossível descolar a imagem. Aliás, esta é a ideia do processo, que a imagem nunca se descole (risadas). A porcentagem de perda no processo é alta e precisamos colocar isto na base de cálculo para que o negócio possa sobreviver.
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