Opinião

All of Us – International Women.

Por Renata Baltar - novembro 29, 2017
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Nesta matéria falaremos sobre a All of Us – International Women.

No mundo da arte a discriminação contra as mulheres, está presente em todas as áreas: representação de galeria, diferenças de preços de leilões, cobertura de imprensa e inclusão em exibições de coleção permanente e em exposições temporárias individuais.

Uma reportagem publicada em 2015 pela ArtNews mostrou que desde 2007 no Whitney Museum apenas 29% das exposições individuais foram de mulheres artistas.

No ano de 2000, o Guggenheim em Nova York não teve nenhuma exposição de uma artista mulher; já em 2014, 14% das exposições individuais foram de mulheres.

No MoMa, por exemplo, em 2015, somente 7% dos trabalhos expostos nas galerias permanentes eram de artistas mulheres. O ano de 2017, entretanto, foi ótimo para a diversidade nas artes.

Muitos museus de Nova York se comprometeram a redescobrir e promover mulheres artistas. O ressurgimento do discurso feminista refletiu nas exposições de arte.

Duas brasileiras, Fernanda Rissardo e Natalia Campos Rocha, fundadoras do All of Us – International Women uma comunidade multinacional e multicultural baseada em Nova York para mulheres que procuram inclusão sociocultural e autonomia financeira, me convidaram a propor um currículo de história da arte como parte das iniciativas da comunidade. O resultado é uma espécie de visita guiada liderada por mim por exposições em Nova York cujo foco seja mulheres.

A primeira parada do meu roteiro aconteceu no Museo del Barrio, um museu desconhecido do público em geral, mas bastante importante para a cultura e arte da América Latina em NY. A exposição “Beatriz Santiago Muñoz: Um Universo de Frágeis Espelhos” é parte de uma série de retrospectivas sobre obras de mulheres artistas latinas que ocorrerão no museu nos próximos anos.

Beatriz Santiago Muñoz: Um Universo de Frágeis Espelhos

A ideia é tentar abranger a carreira de uma artista, ocupando a maior parte do espaço da principal galeria do museu. Alem das exposições, o museu se propõe a promover programas públicos e a publicar um livro que reforça a importância das contribuições da artista para o campo da arte.

Beatriz Santiago Muñoz

O trabalho da artista porto-riquenha Beatriz Santiago Muñoz para essa exposição concentrou-se nas cosmologias indígenas, nos espaços pós-militares e nas religiões sincréticas do Caribe. Santiago Muñoz empresta técnicas da performance, do cinema, da etnografia visual e da antropologia para documentar comunidades específicas e locais públicos para gerar sua própria bricolagem, como por examplo, uma história alternativa sobre um mercado popular haitiano ou um novo sítio arqueológico em Porto Rico.

A segunda visitação proposta foi ao Met Breuer, para ver “Lygia Pape: Uma multidão de formas”. Apenas alguns dias antes havia se encerrado a exposição da italiana “Marisa Merz: O Céu é um Ótimo Espaço”. Ambas as exposições representaram retrospectivas inéditas das artistas nos Estados Unidos.

Lygia Pape é uma figura importante no desenvolvimento da arte moderna brasileira; combinou abstração geométrica com noções de corpo, tempo e espaço de formas únicas que transformaram radicalmente a natureza do objeto de arte no final da década de 1950 e início dos anos 1960. Uma carreira prolífica que durou cinco décadas; esta exposição procurou examinar a obra de Pape, desde escultura, estampa e pintura até a instalação, fotografia, performance e filme.

Lygia Pape: Uma multidão de formas
Lygia Pape

Visitamos depois, no MoMA, a exposição “Dando Espaço: Artistas Mulheres e a Abstração do Pós-Guerra”. A ideia era exibir os trabalhos de mulheres artistas que focavam no abstrato, entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e o início do movimento feminista (em torno de 1968), a partir da própria coleção do museu, apresentando cerca de 100 pinturas, esculturas, fotografias, desenhos, estampas, têxteis e cerâmica produzidas por 50 artistas.

As mudanças positivas no MoMA podem ter relação com o MoMA Women’s Project (MWP), uma iniciativa iniciada em 2005 por sugestão da doadora Sarah Peter. Os curadores fizeram uma pesquisa aprofundada sobre as mulheres artistas na coleção do museu, onde a proporção de artistas era de 5 homens para 1 mulher. O Fundo das Mulheres Modernas, um grupo de financiamento de colecionadoras e conselheiras, agora é o guarda-chuva para uma série de iniciativas em curso, incluindo programas educacionais e públicos, visando aquisições de trabalho de mulheres artistas para a coleção, bem como grandes exposições individuais dedicadas a mulheres artistas.

No New Museum, visitamos “Carol Rama: Anticorpos”, a primeira pesquisa e a maior apresentação do trabalho da artista italiana nos Estados Unidos. A exposição de Rama reuniu mais de cem de suas pinturas, objetos e obras sobre papel, destacando seu constante fascínio pela representação do corpo. Pudemos conhecer o trabalho de uma artista que nunca se enquadrou em nenhuma categoria da História da Arte e cujas obras apresentam formas que se opuseram à ideologia política de seu tempo e continuam a falar sobre ideias de desejo, sacrifício, repressão e libertação. Ao trilhar toda a sua carreira, a exposição traçou o desenvolvimento de suas primeiras representações eróticas e angustiantes de “corpos sem órgãos”, e posteriormente com obras que invocam intrusos, fluidos, e membros.

Carol Rama: antibodies

A última visita foi ao Brooklyn Museum, na exposição “Nós queremos a Revolução: Mulheres Radicais Negras, 1965-85”. Concentrando-se no trabalho das mulheres negras, a exposição procurou examinar as prioridades políticas, sociais, culturais e estéticas das mulheres negras durante o surgimento do feminismo da segunda onda (a primeira onda feminista é conhecida por ter sido um movimento principalmente branco e de classe média). Foi a primeira exposição a destacar as vozes e experiências de mulheres negras reorientando as conversas em torno da raça, do feminismo, da ação política, da produção artística e da História da arte nesse período histórico significativo. A exposição fez parte do “Ano do Sim: Reimaginando o Feminismo” uma série de iniciativas, exposições e programas públicos que estão ocorrendo no Brooklyn Museum para celebrar o 10º aniversário do Centro para Arte Feminista Elizabeth A. Sackler.

Nós queremos a Revolução

A visita as exposicões significou muito mais que simplesmente ensinar e aprender sobre História da arte. Pudemos compartilhar ideias, discutir novos caminhos, propor soluções, e o mais importante de tudo, nos reconhecer. Representação importanta sim. Museus e instituições culturais costumam ser vanguarda nas considerações da ética, das políticas públicas e da inclusão social.

Nenhum progresso social pode acontecer sem a inclusão da cultura, a qual é, ao mesmo tempo, capacitadora e condutora das dimensões econômicas, sociais e ambientais do desenvolvimento social. É claro que há ainda muito trabalho a ser feito. O importante, contudo, é que iniciativas como as que andam acontecendo nos museus americanos sirvam de exemplo para que outros setores possam refletir as suas políticas internas de igualdade de gênero, e quem sabe também mudar o desequilíbrio que ainda é tão presente entre mulheres e homens.

Renata Baltar ao fundo

(1) Reilly, Maura. “Taking the Measure of Sexism: Facts, Figures, and Fixes.” ArtNews. May 25, 2015. http://www.artnews.com/2015/05/26/taking-the-measure-of-sexism-facts-figures-and-fixes/

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