Dois trabalhos de arte que trazem à tona a questão política americana
Grande parte da população norte-americana foi pega de surpresa na semana passada. A vitória não esperada de Donald Trump deixou muitos por aqui incrédulos e tristes, sobretudo em Washington DC que teve a maior votação em percentual para Hillary Clinton. As incertezas são muitas e ondas de violência e racismo crescem por todo país. Eu pessoalmente também senti o baque e assim como muitos estou apreensiva com o decorrer dos acontecimentos.
A arte e a política sempre andaram juntas e nesse momento delicado as mentes criativas estão em ebulição. Pegando esse gancho vou falar de dois trabalhos de arte que vi recentemente que tocam fundo nessa questão.
O primeiro é “I want a presidente…” da artista Zoe Leonard, que foi colocado em exposição em um dos pilares do High Line, bairro de Nova Iorque. High Line, para quem não conhece foi uma antiga linha de trem desativada e abandonada, que depois de muito investimento transformou-se em um parque suspenso e fica em um dos bairros mais nobres da cidade, Chelsea. Lá estão localizadas as principais galerias do país sendo uma área de vibrante atuação cultural.
Nesse trabalho de 1992, Zoe Leonard escreve um manifesto a um presidente ideal. Com palavras duras, o texto toca fundo nas expectativas de uma grande parte da sociedade dos anos 90 que sempre à margem das ações políticas, nunca têm seus direitos representados. Nesse ano de 2016, a obra continua se mostrando atual.
A repercussão foi muito grande, principalmente pelo timing oportuno de exibição, que aconteceu na reta final da corrida presidencial.
Obras em Destaque
Aqui está o texto completo e original em inglês:
O segundo trabalho, feito em 1994, do artista norte-americano Kerry James Marshall está em exibição na National Gallery of Art em DC, no belíssimo e recém aberto East Building, que já apresentei por aqui.
A pintura parece uma triste premonição, inclusive o título Great América assustadoramente remete ao bordão da campanha de Trump: “Let’s make America great again!”
O trabalho fala por si só e de uma maneira triste já mostra em que barco irão todas as minorias desse país sob uma administração de extrema direita e com traços claros de xenofobia e racismo.
Tratam-se de duas obras de arte bastante significativas para esse momento em que estamos vivendo, mesmo tendo sido concebidas nos anos 90. Os dois artistas não são muito conhecidos do público brasileiro e aqui fica a dica para um olhar mais atento para o que ocorre além das feiras e bienais no Brasil.
Zoe Leonard fala das necessidade e expectativas da sociedade como um todo e Kerry James Marshall ilustra a resposta amarga e difícil de tragar sobre o barco em que somos sempre colocados.
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